Título: Campo Majoritário pode perder a hegemonia
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 18/09/2005, O País, p. 8

Petistas vão às urnas hoje escolher a nova cúpula do partido; nome do presidente só deve sair no segundo turno

SÃO PAULO. Cerca de 800 mil petistas estão habilitados a votar hoje, em todo o Brasil, em uma eleição que pode acabar com dez anos de hegemonia do Campo Majoritário, corrente que dominou o PT sob a liderança do ex-ministro José Dirceu. A eleição será marcada pela crise que levou à queda da cúpula anterior: saíram o presidente José Genoino, o tesoureiro Delúbio Soares, o secretário-geral Sílvio Pereira, e o secretário de Comunicação Marcelo Sereno.

O que fazer quanto à punição dos envolvidos no escândalo do mensalão e ao pagamento das dívidas contraídas na gestão Genoino-Delúbio são alguns dos temas que dividem os sete candidatos que participam da eleição de hoje.

Embora não existam pesquisas, todos os prognósticos apontam para o fim da hegemonia do Campo Majoritário no diretório nacional ¿ principal instância dirigente do partido ¿ e para um segundo turno na disputa pela presidência do PT, que deverá acontecer no dia 9 de outubro, entre os dois candidatos mais votados hoje.

¿ Arrisco dizer que muito dificilmente algum grupo conseguirá a maioria absoluta do diretório. Isso já é uma mudança radical na história do partido. É a primeira vez que isso acontece nos últimos dez anos ¿ disse o coordenador do Processo de Eleições Diretas (PED), Francisco Campos.

Campo Majoritário deve ficar sem maioria

Em nível nacional, os petistas votarão duas vezes. Uma para escolher o presidente. Outra nas chapas para o diretório nacional. As 81 vagas no diretório serão preenchidas proporcionalmente, conforme a votação de cada chapa. Com a crise desencadeada pelo escândalo do mensalão, o Campo Majoritário perdeu prestígio e deve ficar sem a maioria absoluta das cadeiras no diretório, que é a instância responsável por determinar as linhas políticas do partido e possíveis punições, entre outras atribuições.

¿ Isso é muito saudável. A crise pelo menos já trouxe uma conseqüência positiva para o PT ¿ disse Campos.

Não à toa, o presidente interino do partido, Tarso Genro, considerou o PED como o momento mais importante do partido desde a sua fundação, 25 anos atrás.

¿ Concordo. É um momento dentro da crise de pensamento e reflexão. Para um partido político, 25 anos é pouco tempo, mas para o PT é um excelente momento de reflexão ¿ disse Plínio de Arruda Sampaio, candidato à presidência do PT com apoio da radical Ação Popular Socialista.

Além dele, outros seis candidatos disputam a presidência do partido. O deputado Ricardo Berzoini é o candidato do Campo Majoritário, Valter Pomar representa a Articulação de Esquerda, a deputada Maria do Rosário disputa pelo Movimento PT, o ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont defende a Democracia Socialista, Markus Sokol é o escolhido dos trotskistas de O Trabalho e Luiz Gonzaga Batista, o Gegê, é candidato independente.

Como não existem pesquisas no PED, os petistas contam as garrafas, o que no jargão do partido significa consultar os principais líderes locais. Na contagem de garrafas petistas, Berzoini está na frente, mas não ganha no primeiro turno. Os principais candidatos a adversário de Berzoini no segundo turno são Pont e Pomar, que têm o amparo de duas das mais importantes correntes de esquerda do partido.

A corrente dominante tem se mobilizado em favor de Berzoini. Flagrados sacando dinheiro das contas de Marcos Valério, os deputados João Paulo Cunha e Professor Luizinho, que estavam afastados do processo enquanto cuidam das próprias defesas, reuniram suas bases em Osasco e no ABC, respectivamente, para pedir votos para Berzoini, na semana passada.

Alguns líderes do Campo Majoritário como o prefeito de Recife, João Paulo, e a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, estão apoiando Pomar. Além de disputas eleitorais locais, eles temem que Plínio seja o adversário de Berzoini no segundo turno e leve o partido para uma posição de confronto com o governo, principalmente quanto à política econômica.

Estará em jogo a posição do PT frente ao governo Luiz Inácio Lula da Silva. Ao escolherem suas chapas, os petistas estarão votando também em teses. A vencedora guiará a construção do programa petista para os próximos quatro anos e a maioria delas traz duras críticas e pede mudanças nas políticas econômicas e de alianças.