Título: 'Ninguém pode acreditar nos empréstimos do PT'
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 21/09/2005, O País, p. 10

Vice de Lula, Alencar diz que não sabe, porém, a origem do dinheiro: 'Se soubesse eu diria porque é crime'

SÃO PAULO. Alegando ter experiência de meio século na área financeira, o vice-presidente da República, José Alencar, disse não acreditar nos empréstimos milionários feitos pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, tido como o operador do mensalão, para a direção do PT. Em entrevista ao "Roda Viva", da TV Cultura, Alencar lançou dúvida se o partido do presidente Lula realmente obteve R$39 milhões nos bancos Rural e BMG, avalizados por Valério, pelo ex-presidente do PT José Genoino e pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares.

- Houve um despreparo total. Tenho experiência na área financeira. Sou empresário há meio século e ninguém pode acreditar nesses empréstimos - disse ele.

Perguntado sobre de onde então teria saído o dinheiro usado pelo PT para financiar campanhas eleitorais, o vice-presidente argumentou:

- Se soubesse, eu diria, porque é crime. O que tenho dito desde o começo é que tudo tem que ser investigado rigorosamente. O próprio Código de Processo Civil diz que o ônus da prova é de quem alega Mas é preciso que haja investigação dura e profunda.

Alencar, no entanto, saiu em defesa de Lula:

- O que posso garantir é que o presidente Lula também não sabe (de onde saiu o dinheiro) - emendou ele, para quem as denúncias de irregularidades não atingiram apenas o PT e o PL, partido do qual se desfiliou, mas "todo o campo político".

Sobre seu futuro, Alencar foi cauteloso ontem:

- Eu resolvi me desfiliar do PL para voltar para casa. Não foi combinado com outro partido e nem pensando em procurar outro partido. Muitos partidos me procuraram para que me filiasse. Então, ainda estou pensando, mas por enquanto a minha posição é a de apenas me desfiliar.

Em relação às denúncias de que o PL recebia ajuda financeira do PT, foi enfático:

- Eu nunca participei de qualquer acordo, a não ser o recurso que a minha empresa doou para a campanha. Não tenho nada a ver com dinheiro de campanha alguma. As minhas coisas são rigorosamente dentro da lei. Se não fosse assim, eu não poderia ter sido candidato, porque o crivo que se faz é brutal - disse ele.

Crítico ferrenho da política de juros do Banco Central, Alencar disparou novos ataques ao falar sobre juros:

- Não queremos um câmbio que nos favoreça, queremos câmbio que nos dê igualdade. Quando adotamos uma política que nos leva a um câmbio equivocado, como foi aquela dos primeiros quatro anos do governo FH, e agora, tendo em vista estas taxas de juros despropositadas, vamos contribuindo para prejudicar o dia de amanhã.