Título: Árvores derrubadas e água nas janelas dos carros
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Fonte: O Globo, 24/09/2005, Rio, p. 18

Tempestade leva caos à Zona Sul, à Tijuca e ao Centro. Em São Conrado, duas línguas negras poluem a areia

A tempestade que atingiu o Rio ontem pela manhã causou um grande transtorno para quem passava por bairros da Zona Sul, pela Tijuca e pelo Centro. A força dos ventos derrubou árvores em cima de carros e de cabos da Light, deixando ruas de dois bairros sem luz. A sujeira tomou conta de praias. Em São Conrado, duas línguas negras poluíram as areias. E quem precisou passar pela Glória, pelo Largo do Machado e pelo Catete viu o nível das águas subir na altura das janelas de carros.

Com as ruas alagadas, muitas pessoas se viraram como puderam para escapar da água. Os irmãos Luiz Roberto Boaventura Júnior, de 20 anos, e Ricardo Stessen, de 24, por exemplo, pegaram carona num carrinho que transportava sucata para atravessar o Largo da Glória até o carro.

¿ A água tinha atingido a altura de um pneu. Os bueiros estavam entupidos e os guardadores tentaram limpá-los para permitir que a água escoasse. Nunca passei por uma situação dessas ¿ disse Luiz Roberto.

Já a aposentada Marieta Lana, de 80 anos, precisou ser carregada num triciclo.

Na Rua do Catete, o nível da água subiu tanto que pedestres usaram grades para fugir das águas. Comerciantes improvisaram barreiras para evitar que as lojas fossem inundadas. Isabel Jucoski, que trabalha num vidraçaria da rua, disse que só não houve danos à loja porque já havia sido instalada uma proteção na frente:

¿ Estamos acostumados com inundações na rua. Por isso, colocamos a proteção na frente da loja. Mas o temporal nos pegou de surpresa.

A jornalista Rosangela Lopes e outras 20 pessoas procuraram refúgio numa loja de ferragens no Centro. Rosângela estava num ônibus quando a rua começou a ficar alagada:

¿ Resolvi entrar porque a rua parecia um rio e havia bueiros sem tampa. O verão nem começou e o Rio ficou um caos.

Os fortes ventos derrubaram árvores na esquina das ruas da Quitanda e Sete de Setembro, no Centro. Uma delas caiu em cima de carros que estavam estacionados no local. Galhos também caíram em cima de cabos da Light na Rocinha e no Maracanã, onde ruas ficaram sem energia elétrica.

Em São Conrado, duas línguas negras voltaram a aparecer na praia próximo à área de pouso de asa-delta.

¿ Toda vez que chove é assim, somos obrigados a pousar no meio do esgoto ¿ protestava o instrutor de asa-delta Jorge Ricardo da Costa.

Em Botafogo, na Rua Visconde Silva, a pressão da água foi tão forte que arrebentou o asfalto sobre uma galeria pluvial. Os motoristas eram obrigados a se desviar do buraco e dos pedaços de asfalto que ficaram espalhados pela via.