Título: PT, de novo, lança candidato sem apoio da base
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 22/09/2005, O País, p. 9

Nome de Arlindo Chinaglia (SP) não agrada a líderes do PSB e do PCdoB, que defendem deputado de outro partido

BRASÍLIA. Sem o apoio da totalidade dos aliados, o PT decidiu apresentar o nome do líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), para a sucessão de Severino Cavalcanti, mas ainda precisa convencer o PSB e o PCdoB. E também o PP, que, por sua vez, resolveu apresentar Francisco Dornelles (RJ) como opção.

Os petistas fecharam com Chinaglia ontem à noite depois de um dia de negociações. O nome não unifica a base. Os líderes do PSB, Renato Casagrande (ES), e do PCdoB, Renildo Calheiros (PE), defenderam um candidato de outro partido da base sob o argumento que haveria possibilidade maior de vitória. O líder do PTB, José Múcio (PE), afirmou que teria dificuldade de convencer os petebistas a votarem num petista no primeiro turno e afirmou que a candidatura de Luiz Antonio Fleury (PTB-SP) era para valer.

- Chinaglia, sou seu eleitor, mas o candidato não deveria ser do PT. O PTB vai apoiar o Fleury porque temos de nos inserir no jogo político - disse Múcio.

Após reunião da bancada do PT em que seu nome foi confirmado, Chinaglia deu a senha de que o PT não vai para o confronto se não houver possibilidade de vitória.

- Temos que estar abertos para tomar outra decisão, pois não podemos perder - disse.

O medo do governo e do comando do PT é sofrer nova e humilhante derrota para a presidência da Câmara.

Os partidos de oposição, PSDB e PFL, já contando com o apoio do PPS, do PDT e do PV, iniciaram os primeiros movimentos para atrair o PMDB, que tem bancada de 86 deputados, para a candidatura de José Thomaz Nonô (PFL-AL), que exerce interinamente a presidência. Os líderes do PSDB, Alberto Goldman (SP), e do PFL, Rodrigo Maia (RJ), decidiram oferecer para o partido a primeira vice-presidência, cargo que ficará vago se o pefelista for eleito presidente.

Quadro ainda está indefinido

Apesar de estar se cristalizando um novo embate governo e oposição, o quadro continua bastante indefinido. No final da manhã de ontem a bancada do PP decidiu apresentar a candidatura do deputado Francisco Dornelles sob o argumento de que o governo precisava de um candidato que unisse a base e ao mesmo tempo fizesse votos na oposição. Apesar disso, Dornelles foi muito cauteloso e deixou claro que sua candidatura não é definitiva e depende de um consenso na base aliada.

- Não é hora de aventura nem bate-chapa. A hora é de entendimento e serei candidato se tiver um mínimo de apoio. Não sou um nome para dividir, só para somar - afirmou Dornelles.

A oposição buscaria assegurar pelo menos 40 votos do PMDB, já que o ex-líder do partido José Borba (PR) assegurou que Chinaglia teria pelo menos 35 votos no partido.

O presidente do PMDB está irritado com tucanos e pefelistas, pois foram eles que insuflaram sua candidatura e depois adotaram a de Nonô. A oposição alega que mudou de posição porque ficou desconfiada que Temer estava tentando também o apoio do governo. No início da noite de ontem, deputados do PMDB lançaram Temer na expectativa de que ele venha a receber o apoio dos partidos governistas. Mas Temer advertiu a seus correligionários que só manteria a candidatura caso o apoio fosse além do partido.

- Só entro para somar, não entro para dividir- disse.

Legenda da foto: ARLINDO CHINAGLIA ao sair da casa de Severino Cavalcanti (ao fundo): o governo teme nova derrota