Título: PUBLICITÁRIOS APOSTAM NA IMPORTÂNCIA DOS JORNAIS
Autor: Mirelle de França
Fonte: O Globo, 22/09/2005, Economia, p. 30

No quarto evento da série 'Encontros no GLOBO', especialistas debatem o futuro dos meios de comunicação

O jornal, um dos mais antigos meios de comunicação de massa do mundo, continuará a ter, no futuro, a importância que tem hoje para o leitor. E, por que não, para anunciantes e publicitários. Foi esta a conclusão dos participantes do quarto evento da série "Encontros O GLOBO/Especial 80 anos", realizado na última terça-feira e que teve como tema "Publicidade em jornal: criação, tendências e perspectivas". Estiveram reunidos no auditório do jornal os publicitários Adilson Teixeira, Lula Vieira, Fábio Fernandes e Mauro Mattos. O colunista Artur Xexéo foi o mediador do debate.

- O jornal vai ser a maneira de ver todo esse volume de informações que recebemos arrumado, organizado e com credibilidade. Ao contrário do que as pessoas imaginavam, cresce cada vez mais a importância do jornal. E assim também serão os anúncios: verdadeiros e com informação - disse Lula Vieira, fundador da agência V&S há 21 anos.

Durante o encontro, patrocinado pela Fecomércio e pela Brasil Telecom, o diretor nacional de Criação da Giovanni, FCB e presidente da Associação Brasileira de Propaganda (ABP), Adilson Xavier, disse que, quando o assunto é publicidade, o jornal é o meio de comunicação mais flexível:

- O jornal não consegue ser extinto, porque é o meio de comunicação que tem mais intimidade com o consumidor. Ele participa da vida das pessoas como nenhum outro meio participa. Por isso, a comunicação inserida no jornal tem menos o efeito de ruído do que o que acontece nos outros veículos, como na televisão, onde o comercial é chamado de break (quebra) - lembrou.

Num dos mais concorridos encontros já realizados pelo GLOBO, cerca de 200 pessoas, entre estudantes e profissionais do setor, assistiram a vídeos e reproduções de anúncios que fizeram parte da história do jornal. O representante da Giovanni, FCB apresentou campanhas recentes do próprio jornal, como a "Faz Diferença". Já Mauro Mattos, presidente de Criação da Conteporânea, lembrou anúncios publicados no jornal que ficaram na memória dos leitores, como o das Óticas Fluminense, que tirava o foco das reportagens publicadas e, no pé da página, trazia um pequeno quadrado com o nome da rede de lojas.

- O GLOBO inovou. Lançou um verdadeiro manual de novos formatos (de anúncios) em 1996 e o deixou à disposição das agências - frisou o publicitário.

Exposição de anúncios termina dia 6 outubro

Para o executivo, a quantidade de informações recebidas diariamente também faz com que seja cada vez mais importante o papel do jornal. Segundo ele, o veículo seleciona e aprofunda as informações para o leitor.

- O jornal é importantíssimo. Antes ele era o principal elo de ligação das pessoas com o mundo, hoje não é o principal, mas certamente é a melhor maneira de você entendê-lo - ressaltou Mattos.

Já Fábio Fernandes, sócio-presidente e diretor de criação da F/Nazca Saatchi & Saatchi, desafiou quem considera que o jornal tem vida curta como veículo de propaganda.

- Entende-se erroneamente que o jornal tem vida curta. As pessoas têm a tendência de restringir o tempo (de vida) do jornal, como o período dedicado à leitura. Mas o certo é ver qual foi o tempo do impacto que um anúncio de jornal tem. Se o anúncio for bem-feito, vai durar em qualquer mídia - explicou.

Fernandes acrescentou, ainda, que jornal tem grande credibilidade e é importante como instrumento de sustentação e construção de marcas. O publicitário também exibiu campanhas inovadoras publicada no jornal, como a da Petrobras, que interferiu no título das editorias. Xexéo, então, o questionou sobre qual o limite que a criatividade publicitária deve ter dentro do jornal.

- Essa é a grande vantagem do jornal. Se de um lado não existe tanta interferência no conteúdo, por outro criamos uma necessidade de sempre fazer alguma coisa renovadora e inovadora, diferente das demais. O ponto de equilíbrio é fazer tudo com bom gosto - disse o executivo.

Depois de cantar jingles para a platéia, Lula Vieira disse que, em um futuro próximo, os jornais vão representar a terceirização da hierarquização das informações, ou seja, mostrar para o leitor o que é importante.

- Conseqüentemente ele (o jornal) vai mudar a cara, de tamanho e de modelo de circulação. As máquinas serão capazes de fazer quase um jornal diferente para cada pessoa - afirmou, brincando que sua teoria não é caso de ficção científica.

Lula também é curador da exposição "Do reclame ao anúncio. 80 anos de propaganda no GLOBO", que até o próximo dia 6 de outubro vai mostrar vários momentos da história da publicidade no jornal desde a sua criação. A exposição acontece no Centro Cultural Telemar, que fica na Rua Dois de Dezembro, 63, no Flamengo. A mostra poderá ser vista das 11h às 20h.

- O evento a que assistimos serviu para mostrar que, assim como os leitores, os publicitários são grandes parceiros de um jornal - declarou Xexéo no encerramento.

Legenda da foto: LULA VIEIRA, da V&S