Título: Em busca da imagem perdida
Autor: Maria Lima e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 25/09/2005, O País, p. 3

Divisão da base e excesso de candidatos, porém, tumultuam eleição na Câmara

Arenúncia de Severino Cavalcanti provocou uma corrida de candidatos de todas as correntes partidárias, do baixo clero, do governo e da oposição rumo à cadeira de presidente da Câmara dos deputados pelos próximos 13 meses. Alguns só para figurar na disputa, sem chances, outros para se cacifar na negociação de cargos e apoios. Embora o discurso de todos seja de que é preciso evitar novo desgaste da instituição, a disputa é acirrada, o quadro é de quase desordem, com ao menos seis candidatos em campo, e a desarticulação na base governista é motivo de apreensão. É o cenário de uma batalha com resultado imprevisível, pois as negociações políticas se estenderão até a hora da eleição, às 10h de quarta-feira.

Se o governo tem para expor na mesa de negociações emendas do Orçamento da União e o empenho pessoal de Lula em defesa do candidato governista Aldo Rebelo (PCdoB-SP), os demais candidatos também têm suas armas. O PFL tem a oferecer, na busca de apoios, a primeira vice-presidência se seu candidato e atual ocupante do cargo, José Thomaz Nonô (PFL-AL), vencer. O maior embate deverá mesmo ser entre esses dois candidatos, com um torcendo para o outro não ir para o segundo turno da eleição.

De outro lado, são vários os pretendentes a uma vaga no segundo turno. O corregedor Ciro Nogueira (PP-PI) quer capitalizar a herança de Severino no baixo clero, mas terá, antes, que vencer a disputa interna no PP com seu companheiro Francisco Dornelles (RJ), já escolhido por unanimidade pela bancada.

Correndo por fora, sem o carimbo de governo ou de oposição, há o nome de Michel Temer (PMDB-SP), da ala oposicionista do partido, que até sexta-feira à noite mantinha a candidatura. Estão ainda no páreo João Caldas (PL-AL), quarto-secretário da Mesa, e Luiz Antônio Fleury (PTB-SP), além de Jair Bolsonaro (PP-RJ).

Ex-cabos eleitorais de Severino não parecem dispostos a transferir seus votos para Ciro Nogueira. O baixo clero está cuidadoso.

¿ O Ciro deve retirar seu nome. Hoje não estamos fazendo uma eleição para beneficiar o baixo clero, mas sim para resgatar a imagem da Casa ¿ diz Benedito Dias (PP-AP), que foi um dos principais cabos eleitorais de Severino.

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