Título: Duas visões
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 18/10/2005, O GLOBO, p. 2
O Palácio do Planalto e os petistas que podem ter seus mandatos cassados por quebra de decoro não têm a mesma estratégia para enfrentar a crise. Essa discrepância ficou nítida ontem quando cinco deputados petistas decidiram enfrentar o processo no Conselho de Ética e apenas um, o ex-líder Paulo Rocha (PT-PA), renunciou ao mandato para não correr o risco da inelegibilidade.
A decisão dos cinco petistas é uma vitória política do deputado José Dirceu (PT-SP), ex-chefe da Casa Civil, que nos últimos dias travou uma queda-de-braço com a articulação política do governo. Para o Palácio do Planalto, a melhor alternativa seria a renúncia coletiva dos petistas, pois há uma convicção de que essa atitude esvaziaria a crise.
Mas, segundo seus aliados, esta saída não era conveniente para Dirceu, que não pode mais renunciar, pois seu processo já está aberto no Conselho de Ética. Se todos renunciassem, Dirceu ficaria só respondendo ao processo e sua situação ficaria ainda mais difícil. Ao lado de cinco petistas, além da cúpula do PP, os amigos de Dirceu avaliam que ele terá uma margem de manobra maior para tentar se safar da cassação no plenário da Câmara. Um dos fatos que pesou na decisão dos petistas foi a atitude do presidente do PP, Pedro Correa (PE), do líder do PP, José Janene (PR), e do ex-líder do PP Pedro Henry (MT). Se os deputados do PP vão pagar para ver, seria desgastante que os petistas fugissem da raia. Sem falar, é claro, da condenação moral a que todos estariam sujeitos.
Há uma semana, quando esteve na Câmara, o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, havia dito que o Planalto e os petistas não tinham uma linha de ação comum. Sobre a possibilidade de renúncia ele disse: ¿É uma decisão absolutamente de foro íntimo. Qualquer decisão vai envolver uma situação de risco altíssimo. As duas (renunciar ou enfrentar o processo) têm pontos negativos e positivos. Por isso, acho difícil que o PT e o Palácio do Planalto tomem uma decisão conjunta¿.
Para a oposição, a decisão dos petistas representa uma oportunidade a mais para expor as mazelas do governo Lula. E cada condenação que vier a ser aprovada no plenário da Câmara soará como uma comprovação de que a CPI dos Correios fez justiça ao pedir que fossem julgados pelo Conselho de Ética.