Título: `Espero que população puna quem renunciou¿
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 18/10/2005, O País, p. 8

Ricardo Izar esperou apenas dois minutos após o prazo final e abriu processo contra 11 acusados de quebra de decoro

BRASÍLIA. O presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), não esperou muito tempo. Exatamente às 18h02m abriu ontem processos de cassação contra 11 deputados acusados de quebra de decoro parlamentar. O prazo de renúncia dos parlamentares acusados de irregularidades ¿ para fugir da perda dos direitos políticos ¿ venceu às 18h. Apenas dois deles, Paulo Rocha (PT-PA) e José Borba (PMDB-PR), renunciaram. E foram duramente criticados por Izar.

¿ A renúncia já foi uma punição. Espero que a população os puna. Se forem candidatos, que sejam cassados nas urnas e não voltem para a Câmara ¿ declarou Izar.

Foram abertos processos contra João Magno (PT-MG), João Paulo Cunha (PT-SP), José Janene (PP-PR), José Mentor (PT-SP), Josias Gomes (PT-BA), Pedro Corrêa (PP-PE), Pedro Henry (PP-MT), Professor Luizinho (PT-SP), Roberto Brant (PFL-MG), Vadão Gomes (PP-SP) e Vanderval Santos (PL-SP).

Serraglio: ¿Confio que a Câmara faça uma varredura¿

O Conselho de Ética volta a se reunir hoje, às 10h, para a escolha dos relatores dos 11 cassáveis, por sorteio. Ontem, Izar fez uma simulação no globo de jogo de bingo, emprestado da Comissão de Licitação da Câmara. Pelo regimento do conselho, os relatores escolhidos não poderão ser nem do mesmo estado nem do mesmo partido do acusado.

Relator da CPI dos Correios e autor do parecer que deu origem aos processos de cassação, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) disse ter confiança que o plenário da Câmara levará até o fim os processos. Na sua opinião, aqueles que não renunciaram apostando na impunidade, estão equivocados. Pelas provas reunidas pela CPI, afirmou, as chances de salvação são pequenas:

¿ Confio que a Câmara, pelo que ouço, faça uma varredura.

O deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) admitiu que a expectativa era de um número maior de renúncias entre os acusados. Mas considerou sintomática a decisão dos que vão enfrentar o processo, mostra de que têm esperança de salvar os mandatos:

¿ A Câmara fica agora com uma responsabilidade maior na condução do julgamento. Temos de aumentar a vigilância.

A reunião de instauração dos processos foi acompanhada por dois deputados que irão responder por quebra de decoro. Um deles, Professor Luizinho, disse que não renunciou por acreditar que não cometeu qualquer irregularidade. A presença dele foi elogiada pelos conselheiros.

¿ A presença de Vossa Excelência aqui, neste momento, é uma atitude digna, de respeito. E demonstra também que o Conselho de Ética não é bicho-papão, como se acredita por aí ¿ disse Edmar Moreira (PFL-MG).

Chico Alencar (PSOL-RJ) também elogiou a presença de Luizinho e o cumprimentou no fim da sessão. Ricardo Izar disse que o conselho não é ¿nenhum tribunal de exceção¿, mas é um órgão que age com rigor. Antes de encerrada a sessão, José Mentor (PT-SP), que também teve processo aberto ontem, compareceu e pediu a palavra. Ele afirmou ser inocente e encaminhou ao presidente do conselho documentos para serem anexados à sua defesa.

¿ Vou encaminhar os documentos ao futuro relator do seu processo ¿ disse Izar.

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