Título: Relator vai pedir hoje a cassação de Dirceu
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 18/10/2005, O País, p. 9

Pelo menos dez deputados devem acompanhar voto de Júlio Delgado e aprovar a punição no Conselho de Ética

BRASÍLIA. O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) apresentará relatório hoje, no Conselho de Ética da Câmara, defendendo a cassação do mandato de José Dirceu (PT-SP) por quebra de decoro parlamentar. Ele encaminhou ontem ao Conselho seu voto, num envelope lacrado, que será lido hoje, a partir das 14h30m. Levantamento feito pelo GLOBO mostra que pelo menos dez deputados devem acompanhar o voto de Delgado e votar a favor da cassação do mandato do ex-chefe da Casa Civil. A cassação ainda terá de ser votada no plenário da Câmara.

Aliada de Dirceu no Conselho de Ética, a deputada Angela Guadagnin (PT-SP) vai pedir vista do processo, e somente após duas sessões o parecer será votado, o que deve ocorrer apenas na sexta-feira. Com a manobra, Dirceu ganha tempo. O Supremo Tribunal Federal (STF) julga amanhã recurso dele pedindo a suspensão do seu processo.

Nove evidências contra o ex-ministro

O voto de Júlio Delgado tem 70 páginas. O relator não vai apontar prova material de que Dirceu quebrou o decoro mas enumerará em seu relatório nove evidências contra o ex-ministro, que chama de conjunto de contradições. Delgado afirma que a relação entre o deputado e o publicitário Marcos Valério é muito maior do que o ex-ministro declarou. Valério intermediou alguns encontros de diretores do BMG e do Banco Rural com o ex-ministro.

Delgado vai citar também o empréstimo do BMG para que a ex-mulher de Dirceu Maria Ângela Saragoça comprasse um apartamento com o dinheiro. Vai mostrar que se tratou de tráfico de influência. Para a compra do apartamento, Saragoça vendeu um outro menor, comprado por Rogério Tolentino, que foi sócio de Marcos Valério. Para Delgado, o negócio não foi uma mera coincidência. O relator concluirá ainda que houve envolvimento indireto de Roberto Marques, ex-assessor de Dirceu, em saques nos bancos envolvidos no escândalo.

O caso do filho do ex-ministro, o prefeito de Cruzeiro do Oeste, Zeca Dirceu, que teria sido beneficiado por recursos públicos por causa da influência do pai no governo e que teria indícios de irregularidades, sequer será citado no relatório. Delgado detalha também a relação, que considera profunda, entre Dirceu, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e os bancos. O relator acredita que não se tratava de uma relação superficial, como Dirceu declarou em seus dois depoimentos no Conselho de Ética.

Os advogados de José Dirceu entraram ontem com dois recursos para tentar impedir a leitura do relatório de Júlio Delgado, um no STF e outro na Mesa Diretora da Câmara. Ao STF ele alega que primeiro deve ser julgado seu mandado de segurança, que será apreciado amanhã pelo mesmo tribunal. Na Câmara, o recurso foi apresentado por Fernando Ferro (PT-PE). O parlamentar quer que, antes da leitura, primeiro a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara julgue recurso do próprio Dirceu pedindo arquivamento, já que o PTB retirou a ação.