Título: Israel pronto para funeral de Arafat
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Fonte: O Globo, 08/11/2004, O mundo, p. 19

Ogoverno israelense já tem pronto um plano para enterrar Yasser Arafat na Faixa de Gaza, contrariando o desejo do presidente da Autoridade Nacional (ANP), internado em estado grave em Paris, de ser sepultado em Jerusalém. A medida, revelada pelo Ministério do Interior israelense, foi criticada pelo ministro palestino Saeb Erekat, que a chamou de imprópria.

¿ Acho que não cabe aos israelenses decidir isso e peço a eles que mostrem um pouco de sensibilidade ¿ disse.

As informações sobre o estado de saúde do líder palestino, de 75 anos, são incertas. Uma autoridade palestina confidenciou ontem que seu estado é crítico e que ele está com deficiência hepática. O ministro de Relações Exteriores da França, Michel Barnier, afirmou que o dirigente está vivo, mas que seu estado é ¿muito complexo, sério e estável¿.

Plano prevê acesso de líderes árabes

Segundo o plano israelense, Arafat seria enterrado num cemitério pequeno e abandonado no campo de refugiados de Khan Yunes, onde estão sepultados seu pai e sua irmã. Os palestinos da Cisjordânia teriam permissão para ir de ônibus à Faixa de Gaza. O acesso, de avião, também seria permitido a governantes árabes cujos países não têm relações diplomáticas com Israel.

¿ Podemos organizar isso de tal maneira que a travessia seja fácil e simples ¿ disse o ministro do Interior israelense, Avraham Poraz.

Fontes do governo dizem que Israel já se organizou para providenciar passes e transporte para os palestinos. Um porta-voz do governo destacou que se trata apenas de um plano de contingência e que esperava um pedido das autoridades palestinas, mas que até o momento elas não haviam entrado em contato. As forças de segurança se preparam ainda para uma possível escalada da violência após a morte do líder palestino.

Israel se opõe a que Arafat seja enterrado em Jerusalém. O ministro da Justiça, Yosef Lapid, chegou a dizer que a cidade era ¿onde os judeus enterram seus reis... não um árabe terrorista¿. Ao indicar a Faixa de Gaza, de onde pretende retirar colônias e tropas no próximo ano, Israel quer, na verdade, se distanciar de um possível ponto de peregrinação palestina.

O local escolhido seria um terreno da família Arafat em Khan Yunes. Mas o pequeno cemitério está coberto de mato e lixo.

¿ Eu não quero que o presidente seja enterrado aqui ¿ disse um comerciante da região, Saleh Zaourb, que sugeriu Jerusalém ou a Cidade de Gaza.

A Polícia e o Exército israelense deverão atuar juntos para impedir uma eventual tentativa de enterrar o corpo do presidente da ANP em segredo na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, revelou o chefe da Polícia, comandante Moshe Karadi.

As notícias sobre o estado de Arafat são contraditórias. O número dois na Organização para a Libertação da Palestina, Mahmoud Abbas, o primeiro-ministro palestino, Ahmed Qorei, e o chanceler Nabil Shaath chegam hoje a Paris para verificar pessoalmente seu estado de saúde. Segundo fontes, eles estariam insatisfeitos com as poucas informações que vêm sendo liberadas por sua mulher, Suha.

¿ Ele tem falência hepática. Sua condição não está melhorando ¿ disse uma fonte na Cisjordânia, explicando que Arafat tem uma baixa quantidade de plaquetas (que ajudam o sangue a coagular), o que dificulta as transfusões de sangue.

Outro membro da ANP contou que alguns órgãos dele não estariam funcionando direito, mas que o cérebro e o coração ainda funcionavam. Um terceiro disse que Arafat sequer estava em coma.

¿ Neste momento, está dormindo ¿ disse Nabil Abu Rdeneh, porta-voz de Arafat.

O chanceler Shaath disse que as funções vitais não haviam sido afetadas e que o coma seria reversível.

Alguns assessores afirmaram ontem que o líder palestino poderia ser transferido para o Cairo, Egito, de onde seria mais fácil enviá-lo para casa em caso de morte. Mas a notícia mais tarde foi desmentida.

Manifestação reúne 4 mil palestinos

Em Ramallah, na Cisjordânia, líderes palestinos decidiram levar adiante um plano para restaurar a ordem nos territórios palestinos, na primeira grande decisão anunciada pelo grupo desde que Arafat foi levado para Paris, no dia 29. O plano, para conter distúrbios e crimes na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, prevê o aumento da segurança na área e proíbe militantes de andarem armados e de intervirem em distúrbios locais.

Em Nablus, cerca de quatro mil palestinos fizeram uma manifestação de apoio a Arafat, numa passeata que partiu da Universidade Al-Najah para o centro da cidade.

¿ De Nablus a Paris, estamos com você, presidente ¿ gritava a multidão.