Título: INVESTIMENTOS RECUAM, COM FREIO NA CONSTRUÇÃO E NO SETOR DE MÁQUINAS
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 24/10/2005, Economia, p. 18

Mas as importações de equipamentos crescem com a queda do dólar

A perda de fôlego da economia brasileira neste segundo semestre deve afetar em cheio os investimentos para ampliar a capacidade produtiva do país. Depois de crescer quase 11% em 2004 e alcançar um patamar recorde no primeiro semestre ¿ quando a taxa de investimento do país alcançou 19,9% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de riquezas produzidas no país), a maior em oito anos ¿ o setor diminuiu seu ímpeto. Os analistas estimam que os investimentos tenham caído até 2% no terceiro trimestre e, agora, começam a se preocupar também com o quarto trimestre.

No segmento de máquinas e equipamentos, os fabricantes alegam que as vendas só continuam em alta porque estão entregando agora encomendas feitas meses atrás. E na construção civil ¿ que, ao lado das máquinas e equipamentos, integra o conjunto de investimentos para ampliar a capacidade de geração de riquezas do país ¿ os sinais são contraditórios.

Apenas as importações mantêm o vigor, mas as compras de máquinas do exterior respondem por apenas 9% do total dos investimentos feitos no Brasil.

¿ Não dá para saber ainda até que ponto as importações estão compensando o freio na produção interna ¿ afirma o economista Rafael Barroso, do Grupo de Conjuntura da UFRJ.

Indústria de máquinas faturou R$37,2 bi até agosto

Entre janeiro e setembro, a reboque da forte queda no dólar, a importação de máquinas e equipamentos cresceu 29,6% em quantidade, ou seja, já descontando os efeitos do câmbio e das variações de preços. O economista Fernando Ribeiro, da Fundação Centro de Estudos em Comércio Exterior (Funcex), explica que os bens de capital (ou seja, as máquinas e equipamentos) são produtos muito sensíveis às oscilações cambiais. Mas, segundo as estatísticas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), pelo menos até agosto, as importações eram quase integralmente compensadas pelas exportações.

A indústria de máquinas faturou R$37,2 bilhões nos oito primeiros meses do ano, dos quais US$5,6 bilhões (ou cerca de R$15 bilhões) vieram das exportações. Por outro lado, o país importou quantia quase igual (US$ 5,5 bilhões) de máquinas e equipamentos. Na prática, o que foi consumido internamente cresceu 27,1% em relação ao ano passado. Mas foi uma expansão concentrada: só a fabricação de máquinas para a indústria mecânica pesada teve alta de mais de 100%. São equipamentos usados em portos ou por indústrias de base, como a siderurgia, explica o presidente da Abimaq, Newton de Mello.

¿ O ritmo de entregas vem desacelerando a cada trimestre. Nas máquinas-ferramentas, o tempo necessário para atender aos pedidos (termômetro da demanda dos clientes), que já foi de 25 semanas, hoje está em quatro semanas ¿ afirma.

Segundo o presidente da Abimaq, na mecânica pesada, que lidera a expansão, os prazos de entrega são sempre maiores pelas próprias características do setor. Então, a produção de hoje reflete encomendas feitas no início deste ano ou em 2004.

¿ Esses juros altíssimos inibem os investimentos. E o dólar baixo também, já que muitos de nossos clientes foram afetados em suas exportações pelo câmbio ¿ resume Mello.

Ipea prevê queda de 2% no investimento no 3º trimestre

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), estima que os investimentos totais da economia tenham recuado 2% no terceiro trimestre, na comparação com o segundo trimestre. Em agosto (último dado disponível), a produção de bens de capital cresceu 3,8% frente a julho, mas os insumos da construção civil ¿ que são o outro componente dos investimentos ¿ tiveram queda de 0,5%.

¿ Precisamos conhecer ainda os números de setembro, mas, a julgar por julho e agosto, a formação bruta de capital fixo (os investimentos) caiu cerca de 2% no último trimestre ¿ afirma o economista Estêvão Kopschitz, do Ipea.

O fraco desempenho da construção civil este ano também frustrou a expectativa dos analistas. O economista Rafael Barroso, da UFRJ, lembra que os números da produção do setor são contraditórios com o forte aumento na concessão de crédito imobiliário: nos oito primeiros meses deste ano, o volume de financiamento cresceu 57,72%, chegando a R$2,87 bilhões. Os dados de emprego também mostram aquecimento. O número de vagas formais criadas este ano na construção civil chegou a 107.836 de janeiro a setembro, quase 10% a mais do que os 98.510 do mesmo período do ano passado. Mesmo assim, a produção de insumos do setor caiu 0,5% em agosto e, entre janeiro e julho, havia crescido só 1,2%.