Título: MATO GROSSO DO SUL PODE TER 16 FOCOS DE AFTOSA
Autor: Paulo Yafusso/Geralda Doca
Fonte: O Globo, 27/10/2005, Economia, p. 28

Governo confirma novo caso em Eldorado e técnicos investigam 5 suspeitas no estado. Embargo chega a 45 países

BRASÍLIA e CAMPO GRANDE. O Ministério da Agricultura confirmou ontem um novo foco de febre aftosa na fazenda Floresta Branca, em Eldorado, no Mato Grosso do Sul. Há mais cinco suspeitas de foco de febre aftosa em áreas de assentamento, desta vez no município de Japorã (MS), segundo fontes do governo. Caso sejam confirmados, o número de focos na região isolada do estado chegará a 16. Outros quatro estão sob suspeita no Paraná. Com isso, os boicotes às exportações de carne brasileira também continuam subindo, com a adesão da Romênia e Colômbia ontem, e já somam 45 países.

O vírus encontrado no Mato Grosso do Sul veio do Paraguai, por meio de animais trazidos em caminhões, concluíram as investigações do Departamento de Operações de Fronteira (DOF). O relatório foi entregue aos secretários de Governo, Raufi Marques, da Produção, Dagoberto Nogueira, e de Justiça e Segurança Pública, Antonio Braga. Mas só será divulgado depois que os secretários se reunirem com o governador José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT.

Rodrigues afirma que não deixará o governo

O embargo da Colômbia se estende a todo o Brasil para carnes bovina e suína e o da Romênia, para os estados de Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo. Apesar de esses países não serem grandes compradores (a Colômbia importou US$117.300 este ano e a Romênia, apenas US$98.200), a carne brasileira já foi vetada por grandes mercados, como União Européia e Rússia.

Além disso, dois dias depois de ter ampliado o embargo às importações de carnes brasileiras, a Argentina decretou ontem estado de alerta sanitário em todo o país e proibiu a entrada de qualquer produto proveniente do Brasil que possa estar contaminado pela aftosa.

Ao chegar para audiência na Comissão de Agricultura do Senado, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse que o reaparecimento da febre aftosa no Mato Grosso do Sul não se deve à falta de recursos porque o gado foi vacinado.

Segundo ele, o governo acredita que houve falhas técnicas no processo de vacinação, o que teria prejudicado a eficiência da vacina. Rodrigues, porém, queixou-se da falta de investimentos nos laboratórios brasileiros e pediu ajuda aos parlamentares para ampliar os recursos dessa rubrica e reajustar os salários dos fiscais de vigilância sanitária.

Rodrigues criticou os cortes lineares feitos pela Fazenda no Orçamento da Agricultura e disse que o governo tem de trabalhar com prioridades, como saúde animal e investimentos na área de pesquisa. Ele afirmou ter boas relações com a Fazenda, mas admitiu sua frustração, apesar de dizer que não vai deixar o governo.

- É evidente que não estou feliz nem satisfeito com essas questões - disse Rodrigues. - Não tenho amor ao cargo e nenhuma ambição política. Mas tenho amor ao agronegócio e não vou jogar a toalha enquanto houver esperança.

Segundo fontes do governo de Mato Grosso do Sul, o relatório do DOF mostra que o vírus veio da região do Rio Piratey, no Paraguai, próximo a algumas fazendas onde há focos. Suspeita-se que os animais infectados tenham sido trazidos do Paraguai por um caminhão boiadeiro que teria estado em agosto na fazenda Vezozzo, em Eldorado - o primeiro foco.

Esta semana, o governo do Paraguai iniciou uma operação de guerra contra a aftosa na região de fronteira, patrulhando a fronteira. Além disso, as 130 fazendas da região foram fechadas com correntes e cadeados. Segundo as autoridades paraguaias, 85% dessas propriedades são de brasileiros que mantêm rebanho nos dois países.

O Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Ministério da Agricultura determinou ontem que não poderá ser impedida a entrada de carne bovina desossada e maturada; de porco; enlatados; miúdos congelados; leite pasteurizado e cru e produtos derivados oriundos dos estados onde há focos ou suspeita.

(*) Especial para O GLOBO