Título: PSDB: plano de vôo
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 18/11/2005, O Globo, p. 2

Em 2002, o contencioso entre o hoje prefeito José Serra e o então governador do Ceará Tasso Jereissati foi um fator que muito prejudicou a campanha tucana para a sucessão de Fernando Henrique. Na convenção que o partido faz hoje, a unidade entre Serra e Tasso será, na disputa de 2006, um diferencial favorável ao partido, já beneficiado pelo colossal desgaste do PT e do governo Lula.

O problema crucial, o da escolha do candidato a presidente, não estará oficialmente na pauta de hoje. Deve ser resolvido entre janeiro e março próximos. Mas evidentemente aparecerão faixas e torcidas a favor de Serra, do governador Geraldo Alckmin e do governador Aécio Neves. Esta é uma tensão latente que os caciques tratarão de conter por enquanto - embora Alckmin, um quase desconhecido fora de São Paulo, esteja se movimentando intensamente, fazendo-se conhecer pelas seções tucanas de estados distantes. Já foi até ao remoto Amapá. De todo modo, a superação do antagonismo Serra-Tasso, que se expressa simbolicamente pela transmissão da presidência ao segundo pelo primeiro, favorecerá a ocorrência de um processo de escolha menos conflituoso que o de 2002. "A antítese daquele momento agora será a síntese", diz o deputado Eduardo Paes.

A convenção é um marco importante no projeto tucano de reconquista do poder. E começa, como destaca o líder Alberto Goldman, por dotar um partido, que andava meio acéfalo, de uma nova executiva. O senador Eduardo Azeredo, que sucedeu a Serra quando este assumiu a prefeitura paulistana em janeiro, foi alvejado por denúncias de envolvimento com Marcos Valério em julho. E desde então, absorvido por sua própria defesa, praticamente se afastou das funções executivas no partido.

- Agora teremos mais ativismo partidário e mais unidade na ação política - diz Goldman.

Além de eleger a executiva - com Tasso na presidência e Eduardo Paes na secretaria-geral - os tucanos traçarão um plano de conduta oposicionista para os próximos meses. Ele deve manter a linha atual, de combate implacável ao governo Lula e ao PT, mas procurando evitar as iniciativas isoladas, os arroubos individuais de alguns e até mesmo o frequente bater de cabeças entre as bancadas do Senado e da Câmara.

A outra tarefa será começar a elaborar um plano de governo, por eles chamado de agenda para o país. Mas no fundo, trata-se de elaborar um projeto de governo alternativo ao do PT, que os tucanos dizem ter apenas reciclado a agenda que levaram a cabo nos anos Fernando Henrique. Mas por isso mesmo, pelo menos em matéria de política econômica, será complicado para o PSDB negar a que foi adotada (ou mantida) pelo governo Lula. Mais ainda se ela continuar produzindo bons resultados. Ontem, pela primeira vez, o ex-presidente Fernando Henrique criticou a política e seu condutor, o ministro Palocci, horas depois de este ter reconhecido que está seguindo o curso e os marcos deixados não apenas pelo governo anterior mas também de outros, procurando ampliar o legado de instrumentos para a consolidação da estabilidade, da melhora da gestão pública e da vulnerabilidade inerente a um país com dívida tão elevada. As críticas devem se aprofundar mas no fundo os tucanos poderão propor mudanças de grau e foco, não de natureza.

Quanto aos dois pré-candidatos paulistas, há quem diga que Alckmin está conseguindo maior penetração no partido. Mas é Serra que tem os melhores índices de preferência, aparecendo há três meses nas pesquisas como o único nome da oposição capaz de derrotar o presidente Lula. Contra ele, entretanto, pesa o complicado dilema de deixar a prefeitura paulistana, não apenas pela promessa em sentido contrário feita à população como pelo inconveniente de deixar o cargo para seu vice pefelista.