Título: CONTRATO DE COBRE LANÇA SUSPEITA SOBRE CHINA
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 04/12/2005, Economia, p. 42

Profissional considerado brilhante faz aposta equivocada em queda de preço e provoca megaprejuízo ao país

PEQUIM. Nas rodas do mercado financeiro de Xangai, Hong Kong e até em Londres, o operador de commodities chinês Liu Qibing, 39 anos, sempre foi considerado um dos mais experientes e bem sucedidos profissionais. Trabalhando no movimentado pregão internacional de metais através de importantes bolsas de mercadorias, como a London Metal Exchange, Liu acumulou prestígio. E também poder, como diretor do departamento de exportação e importação do Centro de Regulagem Estatal para Suprimento de Reservas da China ¿ uma corretora estatal que opera para o Escritório de Reservas Estatais (SRB, da sigla em inglês) do governo de Pequim cuidando de estoques estratégicos.

Tal reputação durou até novembro, quando o operador simplesmente desapareceu. Ou melhor, quando passou de estrela do mercado financeiro para ¿operador desastrado¿ (ou desonesto), chamado de ¿Yasuo Hamanaka da China¿, numa alusão ao operador que em 1996 levou o poderoso Sumitomo japonês a um prejuízo de US$2,6 bilhões com apostas erradas também no mercado de cobre. Ou ainda de ¿Nick Leeson chinês¿, numa comparação com o operador que quebrou o centenário banco inglês Barings em 1995 após outra jogada desastrada no mercado de derivativos de Cingapura, no valor de mais de US$1 bilhão.

O pecado de Liu foi cometido entre julho e agosto deste ano, quando o operador apostou na queda dos preços do cobre e começou a vender o metal na London Metal Exchange em contratos de curto prazo e a valores menores que os US$3.100 cobrados pela tonelada na época. Segundo analistas, a posição está avaliada entre 100 mil e 600 mil toneladas do metal para entrega em 21 de dezembro. Liu apostava que os preços cederiam e ele seria capaz de vender o metal com algum lucro. Mas o mercado movimentou-se na direção contrária à aposta do operador, turbinado por notícias de redução na produção no Chile e nos EUA.