Título: MEC PROPÕE ANTECIPAR REAJUSTE DE PROFESSORES
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 06/12/2005, O País, p. 11

Governo destina mais recursos para o aumento numa tentativa de pôr fim à greve de três meses nas universidades

BRASÍLIA. O governo decidiu aumentar os recursos destinados ao reajuste dos professores universitários para tentar pôr fim à greve da categoria, que já dura três meses. O ministro da Educação, Fernando Haddad, anunciou ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve enviar ainda hoje ao Congresso um projeto de lei com o aumento. A proposta prevê a destinação de recursos de R$650 milhões para o aumento salarial médio de 9,2%. Na proposta original, o MEC destinava R$500 milhões para o reajuste.

Com o aumento na verba, o MEC vai aumentar os salários dos professores a partir de janeiro de 2006, e não mais a partir de maio. O reajuste beneficiará 75% dos 72 mil professores com mestrado ou doutorado. Haddad acredita que os R$150 milhões adicionais sejam suficientes para fazer os professores retornarem às salas de aula. O ministro defendeu o corte do ponto, se os grevistas não encerrarem a paralisação.

¿ Educação é um serviço público essencial que tem que ser tratado com responsabilidade. O decreto que prevê o corte de ponto está em vigência e deve ser cumprido. Se o ponto não foi cortado até agora é porque os superiores imediatos não estão cumprindo a lei. Reconheço que cortar o ponto é um constrangimento moral, uma intimidação ¿ disse o ministro.

Haddad disse que a greve causa mais danos aos alunos oriundos de escolas públicas, já que os cursos mais prejudicados são os da área social e os de licenciatura, geralmente cursados por estudantes mais pobres. Segundo ele, cursos como medicina, freqüentados por alunos de classes mais altas, são menos atingidos porque têm vinculação com hospitais e fundações.

O secretário-geral do Sindicato Nacional dos Docentes de Ensino Superior (Andes), Márcio Oliveira, disse que a entidade só vai se pronunciar após ter acesso ao texto do projeto de lei. Ele disse que o governo está fazendo confusão com o assunto e estaria divulgando dados confusos sobre o reajuste real.

Segundo o Andes, o governo se mantém intransigente em relação a algumas reivindicações, como isonomia e paridade entre os três graus dos níveis educacionais. Márcio afirmou ainda que o ministro não pode ameaçar cortar o ponto porque as universidades são autônomas:

¿ Essa decisão passa pelos reitores. Mas não é devido a ameaça de corte de ponto que a categoria decidirá se continua ou não a greve.

O presidente Lula disse no programa semanal de rádio estar pedindo a Deus para que o Congresso aprove a proposta de criação do Fundeb (fundo de valorização do ensino básico), que injetará mais R$4,3 bilhões na educação brasileira.

¿ Isso vai permitir que a gente cuide das crianças brasileiras e possa fazer um investimento muito mais forte nos estados mais pobres da federação, que estão atrasados em relação aos estados mais ricos ¿ ressaltou Lula, que fez uma defesa veemente dos programas sociais do governo, especialmente do Bolsa Família, argumentando que os recursos aplicados nessa área são sagrados:

¿ Quando tivermos o projeto (do Fundeb) aprovado, aí as crianças brasileiras, os adolescentes brasileiros, voltarão a ter esperança de que vale a pena acreditar no Brasil.

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