Título: Acordão tucano
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 12/12/2005, O GLOBO, p. 2

Os principais dirigentes do PSDB estão convencidos que o presidente Lula não tem condições de se reeleger. Esta constatação deflagrou uma feroz disputa pela candidatura do PSDB. O governador Geraldo Alckmin (SP) passou a ser mais agressivo. O governador Aécio Neves (MG) recolocou seu nome e está trabalhando. A candidatura do prefeito José Serra não é mais uma unanimidade.

A irritação de Alckmin e de Aécio, e de parte da cúpula do PFL, diante da manifestação de simpatia do prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, pelo nome de Serra, é indicativa da tensão existente. Os tucanos acreditam que já estão com a mão na taça, como se diz em relação ao futebol, e para que seus planos não sejam prejudicados articulam para impedir a aprovação da emenda que acaba com a verticalização. Avaliam que, se essa regra eleitoral for mantida, a disputa presidencial se reduzirá a um plebiscito, tendo de um lado a candidatura do presidente Lula e de outro a do PSDB. As possibilidades de se construir uma terceira via ficam muito reduzidas. O PMDB, partido que, por sua estrutura e apelo popular, poderia se habilitar a esse papel, teria de vencer sua natureza federativa para viabilizar um candidato.

Por isso, muitos tucanos dizem que somente a falta de unidade e a disputa interna podem levar ao fracasso seu projeto de voltar ao poder. Para evitar que isso ocorra, os tucanos, como o seu presidente, o senador Tasso Jereissati (CE), e o candidato com melhor desempenho nas pesquisas de intenções de voto, José Serra, passaram a defender o fim da reeleição. Eles se limitam a dizer que a experiência não deu certo, mas, como os pefelistas já perceberam, o fim da reeleição interessa aos tucanos e suas implicações políticas e eleitorais são claras. Sem a possibilidade de reeleição, e um mandato de cinco anos, os governadores Geraldo Alckmin e Aécio Neves poderiam se conformar com a candidatura de José Serra. Eles não ficariam fora do jogo por oito anos, poderiam abaixar suas armas na certeza de que a vez deles chegaria mais cedo, em 2011 (cinco anos).

Quando a reeleição foi aprovada, em 1997 (além da conveniência eleitoral, àquela altura o presidente Fernando Henrique Cardoso era imbatível), os tucanos diziam que ela traria previsibilidade sobre o país durante um período de oito anos e que isso seria positivo para a economia. Agora, ao defenderem o fim da reeleição, se movem pela conveniência política.

O presidente Lula vai indicar o jurista paranaense Luiz Edson Fachin para a vaga no Supremo Tribunal Federal que será aberta com a aposentadoria de Carlos Veloso.

Lula, o PT e a política econômica

O desconforto da maioria moderada do PT com a política econômica não é novidade. O que mudou foi a postura de parcela dos moderados, que se aliaram à esquerda do partido, para explicitar esta divergência.

A resolução do Diretório Nacional do PT, pela redução do superávit primário, é mais um petardo lançado contra o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Os petistas dizem que isso não acontece por acaso e que o próprio presidente Lula estimula esta postura crítica na expectativa de que Palocci faça uma inflexão.

O reposicionamento do PT está relacionado às eleições de 2006. As avaliações internas são de que, por causa da crise ética, a bancada na Câmara pode encolher de 20% a 40%. Agora os petistas assumem posição oficial crítica à política econômica na tentativa de se desvencilhar de seus aspectos negativos e de seus limites. A resolução petista pede mais investimentos públicos e maior velocidade no crescimento. Discurso este que se contradiz às declarações do presidente Lula de que não fará nenhuma aventura eleitoral.

Planos

O vice-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, decidiu que vai governar a cidade de São Paulo com a equipe de José Serra. Fará o mesmo que fez o governador Geraldo Alckmin quando herdou o mandato de Mário Covas. Diz que seu objetivo, se Serra deixar a prefeitura para disputar a eleição presidencial, é firmar imagem de credibilidade como administrador. Isso criaria condições para a sua reeleição em 2008.

A BANCADA do PSDB na Câmara já chegou a um acordo. O deputado Jutahy Magalhães (BA) voltará a ser seu líder no ano que vem. Jutahy é o mais fiel aliado de José Serra. do PMDB

O EX-DIRETOR geral da Câmara dos Deputados, Adelmar Sabino, foi eleito presidente da Fundação Zerbini, instituição mantenedora do Instituto do Coração (Incor).

E-mail para esta coluna: ilimar@bsb.oglobo.com.br

Cobrança

O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), reuniu centenas de petistas que ocupam cargos de confiança no governo. Foi na quarta-feira no auditório da Confederação dos Trabalhadores na Indústria. Falou sobre a estratégia eleitoral e sobre os problemas financeiros do PT. Pediu aos comissionados petistas que coloquem em dia o pagamento de sua contribuição, que é de 2% a 10% do salário, com o partido.