Título: NA ESPLANADA, DEBATE JÁ ESTAVA NA ORDEM DO DIA
Autor: Gerson Camarotti, Lydia Medeiros e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 13/12/2005, O País, p. 3

BRASÍLIA. O debate sobre as divergências no PT em relação à política econômica do governo, que o diretório nacional do partido tornou público no fim de semana, já vinha ocorrendo nos bastidores da Esplanada dos Ministérios com um objetivo para 2006: quais serão as diretrizes econômicas do programa de governo de um eventual segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O grupo ligado ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, quer que o presidente assuma de forma explícita compromissos com a permanência da atual política econômica, inclusive com uma nova versão da Carta ao Povo, o documento de Lula aos brasileiros na campanha de 2002. Na ocasião, o então candidato do PT assumiu por escrito responsabilidades com a condução da política econômica, numa carta escrita por Palocci.

O outro grupo, que conta inclusive com autoridades do Planalto, considera, porém, que não há mais necessidade de o presidente pôr no papel este tipo de compromisso, pois seu governo já provou que tem responsabilidade com a economia. Uma nova carta daria margem a uma política econômica menos restritiva num eventual segundo mandato.

O ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner, é um dos que argumentam que Lula já mostrou ser responsável:

¿ Escrever um novo compromisso após três anos de mandato? Não tem hipótese. Lula já conquistou a confiança da sociedade. Não existe medo ou temor em relação ao governo do PT. Até porque não interessa ao presidente passar para a História como populista.

Mas esse não é essa a posição do grupo de apoio a Palocci no PT e no Congresso. A avaliação de assessores ligados à equipe econômica é de que no primeiro semestre do próximo ano Lula terá que reafirmar, em seu programa de governo para a reeleição, a manutenção do atual modelo de política econômica. O deputado federal Carlito Merss (PT/SC), relator geral do Orçamento e uma espécie de representante informal de Palocci no Congresso, defende a necessidade de assumir esse compromisso:

¿ Antes de assumir, muitos falavam que Lula teria uma prática populista e que abriria as torneiras. Mas isso não aconteceu. Lula foi responsável. E isso tem que ficar claro no discurso de campanha do ano que vem e no programa de governo da reeleição. Vou interferir no debate do grupo do PT que vai discutir o programa de governo. Temos que manter a linha de seriedade e responsabilidade. Vamos reeleger Lula com o discurso da seriedade.

Lula tem dito que terá que enfrentar esse debate sobre o modelo econômico que e sabe que esse será o debate mais difícil no PT. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), reconhece que será necessário assumir compromissos com a política econômica, mas avisa que ainda é cedo para discutir eleição:

¿ O PT tem que defender o que fez. Temos que discutir a responsabilidade fiscal. Esse compromisso daria credibilidade à política econômica. Mas acho que o nosso maior desafio é como resolver a dívida pública e a taxa de juros. (G.C.)