Título: Governo reage ao PT
Autor: Gerson Camarotti, Lydia Medeiros e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 13/12/2005, O País, p. 3

Ministro do Planejamento chama de equívoco grave documento pedindo mudança na economia

Líderes petistas e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, reagiram duramente à resolução do diretório nacional do PT com críticas à política econômica. O documento também incomodou muito e causou preocupação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A avaliação no Palácio do Planalto é que, ao cobrar juros mais baixos e redução da meta de superávit primário, a nova direção do PT expôs desnecessariamente o governo e o presidente com um debate fora de hora. Sem necessidade, comentou o presidente, porque não haverá mudança na política econômica.

Lula estava ciente de que teria que discutir e debater publicamente o assunto com PT ano que vem, na decisão do programa de governo da campanha da reeleição. Mas não esperava que o partido antecipasse o assunto ainda este ano, especialmente neste momento de muita fragilidade para o PT, por causa das constantes denúncias de práticas de caixa dois, e para o próprio governo, que amargou um resultado negativo do PIB no terceiro trimestre.

Ao tratar do assunto ontem com assessores, Lula preferiu, porém, não valorizar o tema. No Planalto, a ordem era de não dar repercussão para tentar esvaziar a notícia.

¿ Este é o PT. Se não fosse assim, este não seria o PT ¿ disse Lula.

Já Paulo Bernardo reagiu:

¿ É um equívoco grave (do PT). O superávit é um componente importante da política econômica.

O presidente sabe que o debate interno existe e até o alimenta, como ficou claro na recente disputa entre os ministros Antonio Palocci (Fazenda) e Dilma Rousseff (Casa Civil). Mas já disse diversas vezes que não gosta que essas discussões venham a público e sejam transformadas em debate público antes de serem resolvidas internamente.

No Congresso, na defesa de Palocci, o senador petista Tião Viana (AC) condenou o gesto do partido. Segundo ele, todos os esforços do PT deveriam ser dirigidos à administração do fim da crise política:

¿ É inoportuno. Quando vaidades se sobrepõe ao que é melhor para o país e para o governo, o resultado é um estímulo ao divisionismo político que enfraquece o governo.

Tião diz que críticas são inacreditáveis

O senador disse ser inacreditável o documento do partido:

¿ Parece que não queremos que o governo dê certo. É inacreditável num partido de 25 anos. O PT discute isso há tantos anos e não aprende. Mas o presidente já está vacinado contra isso.

A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) disse que não se surpreendeu com o tom do partido. Ela lembrou que a discussão sobre os rumos da política econômica é antiga no PT e reacendeu com mais vigor na crise:

¿ A tensão em torno da dosagem da política econômica não é novidade. E todos sabiam que, com a nova direção do PT, as posições mais críticas ganhariam peso.

O relator do Orçamento de 2006, deputado Carlito Merss (PT-SC), preferiu chamar de natural e salutar essa disputa. Para ele, a imprensa destaca de maneira exagerada a briga entre Palocci e Dilma:

¿ Só estamos mais tranqüilos por causa de Palocci e da equipe econômica. Graças a ele, temos para 2006 R$14,3 bilhões em investimentos. Mas temos que iniciar um processo de desenvolvimento.

O ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner, disse que o PT tem o direito de debater e que Lula está acostumado com isso:

¿ Creio que o presidente já se habituou a esses debates.

O líder da minoria, senador José Jorge (PE), ironizou os petistas:

¿ O PT não deixou nem espaço para a oposição exercer o seu papel de crítico deste desgoverno.