Título: WAGNER: NOVO MÍNIMO SÓ PODE SER PAGO EM MAIO
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 17/01/2006, O País, p. 5

Única forma de antecipação do reajuste em dois meses, avisa o ministro, seria a queda do valor para R$340

BRASÍLIA. O ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, esteve ontem no Congresso para avisar aos líderes aliados e ao relator do Orçamento da União, deputado Carlito Merss (PT-SC), que o governo não tem como suportar o reajuste do salário-mínimo de R$300 para R$350 a partir de março, como defendem as centrais sindicais. Segundo ele, esse novo valor só será possível em maio. A única forma de antecipação do reajuste em dois meses, acrescentou o ministro, seria a queda do valor para R$340. Wagner também estabeleceu em 7% o limite para a correção da tabela de Imposto de Renda; as centrais sindicais querem 10%.

¿ O presidente Lula vai dar a palavra final. Fizemos uma proposta de R$340 para o salário-mínimo. Aceitamos o valor de R$350. Mas aí surgiu uma nova demanda. Esse novo patamar para março é impossível. Na nossa avaliação, o impacto desses dois meses será muito grande. Irá refletir nas prefeituras e na folha da Previdência. O que é possível para março é o mínimo de R$340. Uma coisa compensa a outra ¿ afirmou Wagner.

Valor do novo mínimo deve ser anunciado quinta-feira

O presidente deve anunciar quinta-feira o valor do novo mínimo em reunião com ministros e representantes das centrais sindicais, no Palácio do Planalto. Wagner confirmou a informação do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, contrariando previsão do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, de que seria possível reajustar o mínimo para R$350 já em março.

Sobre a correção da tabela do Imposto de Renda, Wagner descartou o atendimento à reivindicação das centrais sindicais, de uma correção de 10%, argumentando que a proposta de 7% já é superior a inflação do período, que ficou na casa dos 5,5%.

¿ A correção de 7% já está acima da inflação. Aos poucos, estamos cumprindo os acordos assumidos. Mas não dá para cumprir tudo de uma vez só ¿ disse o ministro, após encontro com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Em reuniões com os líderes do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), Wagner discutiu uma estratégia para votar rapidamente o Orçamento de 2006. Hoje, a Comissão Mista de Orçamento retoma suas reuniões plenárias para a votação dos nove relatórios setoriais restantes. Mas a grande discussão política será em torno do reajuste do mínimo.

Merss disse ontem que espera que parte do dinheiro que o Brasil economizará com a antecipação dos pagamentos ao FMI componha o Orçamento de 2006, para cobrir novas despesas. Para Merss, o salário-mínimo de R$350 já é uma realidade, mas depende de o presidente decidir a data da vigência.

¿ Será o melhor salário-mínimo dos últimos 30 anos em termos de poder de compra. E este valor injetaria R$15 bilhões na economia neste ano.

O deputado preferiu não se comprometer com a antecipação do reajuste, de maio para março, pois dependerá do impacto sobre as contas públicas. Um cálculo inicial feito pela Previdência aponta que a antecipação custará R$2,1 bilhões a mais no Orçamento.