Título: Nariz torcido
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 18/01/2006, O GLOBO, p. 2

A cúpula do PFL reuniu-se na noite de segunda-feira, num restaurante em Brasília, para uma conversa informal sobre a situação política. A disputa interna no PSDB ocupou boa parte da reunião onde foram classificados de ¿erro estratégico¿ os ataques de aliados do governador Geraldo Alckmin contra o vice-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, eventual sucessor do tucano José Serra.

Participaram do bate-papo o presidente do partido, Jorge Bornhausen (SC), os líderes Rodrigo Maia (RJ), José Agripino (RN) e José Carlos Aleluia (BA), o presidente da CPI dos Bingos, Efraim Morais (PB), o senador José Jorge (PE) e o deputado José Roberto Arruda (DF). Os pefelistas lembraram que não estão participando publicamente da disputa interna do PSDB e, portanto, não aceitam serem transformados em vítimas desse processo. Mas a derrapada de Alckmin, provocada pelos ataques do secretário de Educação, Gabriel Chalita, a Kassab, fortaleceu a convicção de parcela considerável do PFL de que José Serra é o melhor candidato. Kassab, além de controlar o PFL paulista, tem forte ligação com Bornhausen e participa ativamente da formulação da estratégia nacional pefelista.

Eles avaliaram, por exemplo, que o anúncio feito por Alckmin, de que vai se desincompatibilizar, foi um gesto inócuo. E argumentou-se que se a intenção era constranger Serra, este objetivo só seria atingido se o governador deixasse o cargo imediatamente, criando uma situação de fato. Pragmáticos, os pefelistas também discorreram sobre o perfil dos dois candidatos tucanos diante das características do pleito que se avizinha. Eles prevêem uma disputa ao eleitor apertada e bastante acirrada e para tanto, acreditam, a oposição precisa de um candidato com autoridade nacional, que tenha musculatura e que seja de dar uma cotovelada, se for preciso, no presidente Lula. Para os que estavam lá, Serra se enquadra neste figurino.

Os pefelistas também discutiram uma eventual aliança com o PMDB. Os tucanos continuam tendo preferência, mas os pefelistas não fecham as portas para outras alternativas. Dizem que caso os peemedebistas lancem para disputar a Presidência nomes como os dos governadores Jarbas Vasconcelos (PE) ou Germano Rigotto (RS), tem conversa. O PFL só não admite qualquer entendimento com o PMDB se o candidato for o ex-governador do Rio Anthony Garotinho.