Título: ABERTURA DE EMPREGO FORMAL ENCOLHE 17,7%
Autor: Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 19/01/2006, Economia, p. 24

Com juros altos e economia do país mais fraca, número de vagas criadas caiu para 1,254 milhão no ano passado

BRASÍLIA. O fraco desempenho da economia em 2005 acabou tendo reflexos na abertura de postos de trabalho formais no país. De acordo com o Ministério do Trabalho, foi criado 1,254 milhão de empregos com carteira assinada no ano passado, cerca de 17,7% a menos do que o resultado de 2004, cujo saldo ¿ a diferença entre vagas abertas e perdidas ¿ tinha ficado em 1,523 milhão de postos. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, espera repetir este ano o desempenho de 2004.

¿ Temos condições de ter desempenho mais parecido (este ano) com 2004 do que 2005. O pico do crescimento do emprego se dará a partir de abril ¿ afirmou ontem Marinho.

Estimativa para governo Lula é de 5 milhões de vagas

Caso seja concretizada a estimativa do ministro, o total de postos de trabalho formais criados ficará em cerca de cinco milhões durante o mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006) ¿ que chegou a falar na criação de dez milhões de empregos na campanha eleitoral. Mesmo assim, o desempenho é bem melhor do que o do governo de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, que no acumulado de seus dois mandatos (1995-2002) criou ao todo 796.967 empregos formais, segundo dados do Ministério do Trabalho.

Em 2005, o setor da indústria de transformação foi o que mais registrou desaceleração no ritmo de crescimento do emprego, com a abertura de apenas 177.548 postos de trabalho, quase 65% a menos do que os 504.610 gerados no ano anterior. O comércio também perdeu fôlego, com saldo de 389.815 empregos, contra os 403.940 de 2004, conforme mostrou a pesquisa Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Perguntado sobre a razão dessa desaceleração, Marinho culpou a política monetária.

¿ É por causa da nossa querida e estimada Selic ¿ afirmou o ministro, com ironia, referindo-se à taxa básica de juros, que, segundo os críticos da política monetária, impediu que o país crescesse mais no ano passado.

O setor agrícola, acrescentou Marinho, sentiu os efeitos da febre aftosa, da seca que afetou a Região Sul do país e até dos preços internacionais das commodities no ano passado. Isso significou um resultado negativo de 12.878 empregos em 2005. Em 2004, o setor havia criado 79.274 postos.

Do lado positivo, o setor de serviços foi o que apresentou o melhor desempenho na pesquisa, com resultado positivo de 569.705 postos, 21,2% a mais que em 2004, quando ficara em 470.123. A construção civil também mostrou força, com resultado positivo de 85.053 empregos ¿ 67,55% a mais do que no ano anterior (50.763).

¿ Para este ano, esses setores continuarão crescendo mais ¿ afirmou o ministro.

A Região Sudeste foi a com o melhor resultado positivo na abertura de postos de trabalho no ano passado, com 790.111 vagas. Deste total, o Rio de Janeiro ficou com 121.111 empregos, ocupando o terceiro lugar na lista, liderada pelos estados de São Paulo (472.931 postos) e Minas Gerais (155.409).

Somente em dezembro passado, o país perdeu 286.719 empregos formais, menos do que o resultado negativo apurado no mesmo mês de 2004, de 352.093 postos de trabalho. Na avaliação de Marinho, esses resultados são apenas sazonais.