Título: `A reeleição está enterrada', afirma João Paulo
Autor: Ilimar Franco e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 19/11/2004, O País, p. 8

O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), pôs fim ontem a polêmica sobre a emenda que possibilitaria sua reeleição e a do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Após participar na quarta-feira de um jantar com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e com Sarney, o petista afirmou que a emenda da reeleição está enterrada definitivamente. Ele já fala sobre planos futuros, como a disputa do governo de São Paulo, em 2006.

¿ Entendo que a reeleição está enterrada ¿ disse João Paulo ontem de manhã, lembrando que não vai arquivar a emenda original, do deputado Benedito de Lira (PP-AL), porque contraria o regimento, mas garantindo que não será votada.

Enquanto João Paulo e Sarney desistiam da reeleição, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), lançou sua campanha à presidência da Casa na rua. A emenda da reeleição é um dos fatores que paralisaram o Congresso nas últimas semanas e que levaram o PMDB a ameaçar sair do governo.

Renan fecha acordo com PSDB e PFL

Ontem pela manhã, já sabendo do resultado do jantar, Renan tomou café da manhã com os líderes do PSDB, Arthur Virgílio (AM), e do PFL, José Agripino (RN). Eles fecharam um acordo que poderá garantir a candidatura de Renan à sucessão de Sarney: PSDB e PFL se comprometem a respeitar o direito da maior bancada, no caso o PMDB, de indicar o futuro presidente do Senado.

Para deixar claro que havia de fato desistido de qualquer pretensão de se reeleger, João Paulo, pela primeira vez, comentou abertamente a disputa no PT para sucedê-lo. Reconheceu que há pelo menos nove petistas candidatos. Evitou citar nomes, mas fez uma advertência: o partido precisa escolher alguém que represente consenso não apenas na bancada petista, mas também na Câmara.

Represada pela polêmica da reeleição, a sucessão de João Paulo no PT começa agora a ser discutida abertamente. Os mais cotados são: Arlindo Chinaglia (SP), líder da bancada; Professor Luizinho (SP), líder do governo; Paulo Bernardo (PR), presidente da Comissão de Orçamento; e Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça. Correm por fora Virgílio Guimarães (MG), relator da reforma tributária; Walter Pinheiro (BA), ex-líder da bancada do PT; Sigmaringa Seixas (DF); José Eduardo Cardozo (SP); e Paulo Delgado (MG).

¿ O candidato do PT tem que ganhar na bancada e ter trânsito nos partidos da base. Tem que agradar ao PT e agregar à base. Se for escolhido um candidato ruim, corremos o risco de sermos derrotados ¿ afirmou João Paulo.

Tucanos e pefelistas podem lançar candidato na Câmara

PSDB e PFL podem lançar um candidato avulso para disputar a presidência da Câmara, caso a sucessão divida a base. Por isso, João Paulo, que teve o apoio do PFL quando se elegeu, considera importante que o petista que vier a sucedê-lo componha com tucanos e pefelistas.

É justamente isso que Renan Calheiros começou a fazer ontem no Senado ao encontrar-se com Agripino e Virgílio. O peemedebista quer ser o candidato de consenso. No encontro com os líderes da oposição, disse que pretende montar uma chapa para a Mesa Diretora que respeite a proporcionalidade dos partidos. Afirmou ainda que pretende estabelecer um acordo de procedimentos nas votações.

¿ Os partidos fizeram um acordo de respeitar a tradição do Senado que garante ao maior o direito de indicar o presidente. Vamos fazer também um acordo de procedimentos nas votações. Não vai ter rolo compressor ¿ disse Agripino.

Renan, que já vem conversando há algum tempo com o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), também se reuniu ontem com o líder do governo no Congresso, senador Fernando Bezerra (PTB-RN), e com o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ). Os trabalhistas, anteontem, reuniram sua executiva e decidiram que não dariam mais apoio à emenda da reeleição. O ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia (PTB), informou a João Paulo e Sarney sobre essa decisão, antes do jantar com Lula.

Na tarde de quarta-feira, os líderes de todos os partidos já haviam informado a Professor Luizinho que não havia mais clima para votar a emenda da reeleição e deram um prazo para que João Paulo tomasse a iniciativa de desistir publicamente.