Título: MASSACRE NO REFEITÓRIO
Autor:
Fonte: O Globo, 22/12/2004, O Mundo, p. 36

Ataque a base em Mossul mata 22 e causa maior baixa dos EUA no Iraque: 19 mortos

MOSSUL, Iraque

Enquanto o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, fazia ontem uma visita surpresa a Bagdá, prometendo que os rebeldes serão vencidos, militares americanos viviam na cidade de Mossul, no norte do Iraque, o pesadelo de um ataque em que 22 pessoas morreram e mais de 60 ficaram feridas. Uma explosão atingiu o refeitório de uma base americana na hora do almoço. Autoridades disseram que nada menos que 19 dos mortos são soldados e civis americanos, o que representa a maior baixa dos EUA num único ataque desde que a guerra teve início, em março do ano passado. Entre as vítimas há soldados iraquianos e civis que atuam na reconstrução do país. A empresa Halliburton informou que morreram quatro de seus empregados e três funcionários terceirizados.

Em mensagem na internet, o grupo sunita Ansar al-Sunna ¿ que seria ligado à rede al-Qaeda ¿ assumiu a autoria do ataque, um dos mais violentos desde o início da guerra. O grupo disse que a explosão foi causada por um homem-bomba, mas autoridades afirmaram que morteiros e foguetes foram lançados contra o refeitório.

Consternado, o presidente George W. Bush declarou sobre os soldados:

¿ Rezamos por eles. Enviamos sinceras condolências a seus entes queridos. Queremos que eles saibam que a missão é vital para a paz.

Bush disse ainda:

¿ Quero agradecer aos soldados que estão lá, àqueles que têm se sacrificado. Tenho confiança que a democracia vai prevalecer no Iraque.

Pela primeira vez, uma pesquisa da TV ABC News e do ¿Washington Post¿ indicou ontem ¿ antes do ataque ¿ que para a maioria dos americanos (56%) a guerra no Iraque não valeu a pena. Em julho, o índice era de 49%.

Soldados ajudam colegas feridos

Era meio-dia em Mossul quando uma forte explosão atingiu o refeitório que funciona numa ampla tenda da enorme Base de Marez, instalada no campo de aviação local. Comandante dos oito mil soldados americanos baseados na cidade, o major-general Carter Ham comentou:

¿ Foi uma experiência comovente ver soldados feridos carregando outros mais seriamente feridos.

Já Jeremy Redmon, repórter do ¿Richmond Times-Dispatch¿, de Virgínia, contou em Mossul que centenas de soldados haviam acabado de se sentar para almoçar quando a tenda foi atacada:

¿ A força das explosões expulsou os soldados das cadeiras. Uma bola de fogo envolveu a tenda e choveram pregos (disparados por explosivos) sobre os homens. Em meio aos gritos e à fumaça espessa que se seguiram, soldados rapidamente viraram as mesas de refeição de cabeça para baixo, puseram nelas os feridos e os carregaram para o estacionamento.

Terceira maior cidade do Iraque, Mossul vive há semanas uma onda de violência, iniciada depois de uma ofensiva contra rebeldes em Faluja, que era o maior foco de insurgência sunita. Comandantes americanos disseram que o terrorista jordaniano Musab al-Zarqawi ¿ o homem mais procurado no Iraque ¿ pode ter transferido sua base de Faluja para Mossul.

Até ontem, o incidente no Iraque em que mais americanos haviam morrido era um choque de helicópteros que matou 17 soldados em novembro do ano passado, justamente em Mossul. Os aparelhos colidiram quando seus pilotos tentavam escapar de tiros e caíram.

Em sua primeira visita a Bagdá, o premier britânico ¿ que já estivera duas vezes no Iraque ¿ limitou-se a visitar a Zona Verde, área sob forte segurança que abriga a sede do governo iraquiano. Blair chamou de heróis os funcionários que preparam as eleições de 30 de janeiro. Ao deixar a capital, morteiros foram lançados contra a Zona Verde, como acontece quase diariamente.