Título: Falta uma política
Autor:
Fonte: O Globo, 22/01/2005, Opinião, p. 6

Recente relatório das Nações Unidas sobre a erradicação da extrema pobreza no mundo aponta o Brasil como um dos países capazes de resolver o problema por seus próprios meios. De fato o Brasil tem potencial de crescimento e geração de renda suficientes para proporcionar uma qualidade de vida bem razoável à população.

Mas a erradicação da extrema pobreza dependerá também de políticas públicas específicas, voltadas principalmente para a educação. Como os frutos desse investimento não podem ser colhidos de imediato, a erradicação da extrema pobreza será tão ou mais acelerada se houver uma ação efetiva do Estado que inclua um programa de planejamento familiar voluntário.

A extrema pobreza no Brasil não está presente apenas em rincões longínquos. Ela se distribui por favelas das regiões metropolitanas, onde as taxas de expansão demográfica estão bem acima da média nacional.

Além de proles numerosas, outro fenômeno ¿ muito preocupante ¿ está se tornando comum nessas comunidades carentes: a gravidez precoce. Adolescentes que deveriam estar ainda freqüentando escolas já são mães, sem condições materiais para criar seus filhos de forma digna (até porque nem elas próprias usufruem dessas condições).

A diferença entre as taxas de expansão demográfica dos mais pobres e da chamada classe média chega a ser de oito vezes, e enquanto existir tamanha distância ficará mais difícil erradicar a miséria no Brasil. É preciso ao menos tentar reduzi-la com um programa de planejamento familiar voluntário.