Título: Reforma da ONU e pressão sobre Lula, as principais decisões do Fórum Social
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 01/02/2005, Economia, p. 23

O Fórum Social Mundial terminou ontem com um recorde de 155 mil participantes de 135 países e dois desafios: articular 352 propostas de ação pelo mundo e se espalhar pelos continentes em janeiro de 2006, simultaneamente ao Fórum Econômico Mundial. Em 2007, o FSM será na África. Da extensa agenda das ONGs e movimentos sociais, os principais articuladores internacionais do FSM vão centrar fogo em três: reforma das Nações Unidas, democratização das instituições globais e Campanha pelas Metas do Milênio (que priorizam o combate à miséria). Para o Brasil, a ordem é aumentar a pressão sobre o governo Luiz Inácio Lula da Silva, principalmente contra a concentração de renda no país.

Criticados pelo excesso de propostas e pela dificuldade de concretização, os organizadores do Fórum dizem que as articulações da sociedade civil resultaram em pressões aos governos e às instituições:

¿ As críticas desvalorizam o poder do debate, do convencimento e da pressão. O que temos feito é mudar as cabeças das pessoas e agendas internacionais. Alemanha e França desistiram de apoiar a invasão do Iraque. Isto é ação. O que seria ação organizada? Sair daqui jogando bombas? O Fórum quer o fim das guerras, a paz mundial ¿ reclama Oded Grajew, fundador do Fórum Social e ex-assessor de Lula.

Nova sede para Nações Unidas

A reforma da ONU será um dos focos de pressão. O FSM vai levar adiante ao menos uma das propostas dos intelectuais que participaram do Fórum, consideradas quixotescas: mudar a sede da ONU de Nova York para algum país do Hemisfério Sul, em repúdio à invasão do Iraque pelos Estados Unidos. As coalizões do FSM querem ainda o fim do Conselho de Segurança. A Organização Mundial do Comércio e o FMI também serão alvo das pressões. Em setembro haverá mobilização pelo cumprimento das metas do milênio, comprometidas há cinco anos.

Em sua quinta edição, o FSM cresceu e ficou menos intelectualizado: foram 2.500 atividades, com 6.588 organizações. O trabalho voluntário reuniu 2.800 pessoas e o custo chegou a R$ 12,5 milhões. A distância entre os locais, a falta de transporte interno e a desorganização prejudicaram o encerramento.

¿ Agora é partir para realizar as mais de 300 propostas. O avanço é este: estamos saindo daqui com propostas para ação e numa articulação crescente ¿ disse o representante da Comissão Brasileira Justiça e Paz, Chico Whitaker, um dos organizadores do FSM.

Whitaker desmentiu a informação de que a Venezuela será a sede do Fórum 2006, dada pela delegação da Venezuela com estardalhaço no domingo à noite, na presença do presidente do país, Hugo Chávez. A proposta será avaliada em abril.