Título: APÓS DERROTA, ALIADOS BRIGAM POR MAIS ESPAÇO
Autor:
Fonte: O Globo, 20/02/2005, O País, p. 9

A derrota do PT na disputa pela presidência da Câmara deu início a uma guerrilha por espaço no partido e no governo. Como não há lugar para todos, sobretudo para as estrelas petistas, não faltam aliados puxando o tapete uns dos outros. Os aliados querem ampliar sua presença e participação no governo. Os petistas querem o contrário. Diante dessa situação nova, o presidente Lula vai passar as próximas duas semanas meditando sobre a reforma ministerial.

Instalado na presidência da Câmara, o PP não aceita mais o Ministério dos Esportes, quer uma pasta forte, como a dos Transportes, ocupada pelo PL. Os integrantes do PP consideram que, pela posição que tem agora no poder, o partido merece ocupar até mesmo duas pastas. Mas também avaliam, numa espécie de chantagem, que a partir da presidência da Câmara terão muito mais força para liberar emendas parlamentares ao Orçamento do que num ministério setorial. Convidado para ser ministro, o ex-líder Pedro Henry corre o risco de não emplacar: teria perdido apoio interno.

¿ O PP deveria ocupar dois ministérios. O PMDB tem dois e dá menos votos que nós para o governo na Câmara ¿ diz o líder José Janene (PR).

O PT também vive dias tensos e em clima de serpentário. O líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), parece estar com os dias contados e foi excluído de uma reunião da coordenação de governo na terça-feira. Num almoço, ministros petistas defenderam que, a partir da derrota na Câmara, o líder do governo teria que ter uma relevância maior e com um perfil que agregasse mais. O discurso se enquadra no figurino do ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP).

Aldo decide não se envolver nas disputas petistas

Estavam presentes ao encontro que praticamente selou o destino de Luizinho, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, o secretário de Comunicação e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken, os ministros do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Jaques Wagner, da Coordenação Política, Aldo Rebelo, e o presidente do PT, José Genoino, além de João Paulo Cunha.

¿ As funções de líder do governo e do PT terão agora de cumprir missão mais relevante. O presidente da Câmara não será mais um articulador do governo, os líderes terão um papel decisivo ¿ afirma um ministro petista, confirmando a estratégia traçada na reunião.

Sem apoio em seu próprio partido, Luizinho tem despachado quase que diariamente com o ministro Aldo Rebelo em busca de uma saída. Mas o ministro decidiu não se envolver na disputa por espaço entre os petistas. Principalmente porque ele foi vítima do serpentário petista, durante a semana, quando vários deputados tentaram jogar em seu colo a responsabilidade pela derrota do PT na Câmara.

¿ O que o Aldo faz lá? ¿ pergunta o deputado Paulo Bernardo (PT-PR).

¿ Queremos o João Paulo no Ministério! ¿ diz o provável futuro líder da bancada do PT, Paulo Rocha (PA).

A gana dos petistas contra o ministro da Coordenação Política aumenta na medida em que ele é apontado como um dos vencedores do processo, ao lado do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), e do novo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). É que os três derrotaram a emenda da reeleição para as presidências da Câmara e do Senado.

No caso de Aldo Rebelo, ele ainda executou à risca a orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de não promover um festival de fisiologismo na eleição do presidente da Câmara.

Mercadante foi favorecido com derrota na Câmara

Já Mercadante foi favorecido com o fato de a derrota da Câmara ter praticamente tirado João Paulo do páreo na disputa pelo governo paulista.

¿ Agora a candidatura ao governo de São Paulo ficou entre mim e a ex-prefeita Marta Suplicy. Vamos chegar a um acordo ¿ diz Mercadante pelos corredores do Congresso.