Título: Eleições no Peru são o próximo teste de fogo para as empresas brasileiras
Autor: Ronaldo D'Ercole
Fonte: O Globo, 29/01/2006, Economia, p. 30

Votorantim, Odebrecht e AmBev têm grandes investimentos no país

SÃO PAULO e RIO. Dois grandes grupos brasileiros acabam de fazer investimentos expressivos no Peru, onde cresce a candidatura nacionalista de esquerda de Ollanta Humala à sucessão do presidente Alejandro Toledo, em abril. A Votorantim Metais investiu cerca de US$210 milhões na compra da refinaria de zinco Cajamarquilla, há pouco mais de um ano, e a AmBev inaugurou em 2005 uma fábrica de cerveja nas proximidades de Lima.

Para os analistas do Observatório Sul-Americano (Opsa), do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), problemas como o ressurgimento das atividades do Sendero Luminoso, no Peru ¿ com um ataque que matou oito policiais na província de Aucayacu ¿ têm cunho doméstico. Provavelmente, não terão força para interromper o processo de integração econômica da região.

¿ A integração acaba funcionando como um guarda-chuva que minimiza o risco político localizado ¿ diz o diretor de relações institucionais da Construtora Odebrecht, Roberto Dias.

A Odebrecht concluiu três projetos no Peru ¿ entre os quais a construção de uma hidrelétrica em Arequipa. E tem mais seis projetos em curso no país. Na opinião de Dias, a integração regional é irreversível.

Para produzir a cerveja Brahma e refrigerantes no Peru, a AmBev aplicou US$100 milhões naquele país. A empresa tem fábricas em 14 países da região ¿ inclusive na Venezuela. O lucro operacional nesses mercados (Ebitda) foi de US$189 milhões em 2004. Juntas, as marcas da AmBev detêm 35% de participação no mercado de cervejas desses países.

A Braskem, com 13 complexos industriais no Brasil e liderança na área petroquímica na América Latina, também aposta na expansão regional para figurar na lista das dez maiores do mundo até 2012, informa o diretor de Relações com Investidores da companhia, José Marcos Treiger. Apesar da turbulência política na Bolívia, a empresa tem planos de construir um complexo petroquímico de cerca de US$1 bilhão. Outro investimento de US$300 milhões a US$400 milhões está em estudo na Venezuela.

O BNDES também vem ampliando o financiamento a exportações brasileiras de bens e serviços para a América Latina. De acordo com o superintendente da Área de Comércio Exterior do BNDES, Luiz Antonio Araújo Dantas, o banco desembolsou US$ 466 milhões para esses projetos em 2005, cerca de 40% a mais do que no ano anterior. O principal destino foi a Argentina, com US$ 216 milhões. A Bolívia ficou de fora, enquanto Cuba teve o valor de 2004 triplicado, para US$30 milhões.

Ainda com o objetivo de fortalecer a integração regional, o BNDES ampliou a sua participação na Corporação Andina de Fomento (CAF), organismo multilateral que desembolsou US$2 bilhões para projetos regionais.

Onda nacionalista é fruto do baixo crescimento

Para o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida, os arroubos antiglobalização e nacionalistas de políticos da região têm relação direta com os baixos índices de crescimento econômico.

¿ As bandeiras políticas nacionalistas prosperam quando há baixo crescimento econômico ¿ diz Gomes de Almeida.

Mas na opinião dele, o discurso não deve ter efeito prático nos investimentos das empresas brasileiras. Os processos como o que envolve atualmente a Petrobras na Bolívia são preocupantes. Mas não devem se generalizar.

¿ No fim vai prevalecer a idéia de que são todos primos pobres. Esses países precisam tanto dos investimentos brasileiros quanto nós precisamos de seus mercados ¿ diz.