Título: DELEGACIA JUDICIÁRIA DA PM INVESTIGARÁ MILÍCIAS
Autor: Sérgio Ramalho
Fonte: O Globo, 31/01/2006, Rio, p. 17

Nova unidade vai atuar na Zona Oeste apurando envolvimento de policiais com grupos que vendem `proteção¿

A expansão territorial das milícias formadas por policiais em 72 comunidades do Rio ¿ denunciada em reportagem do GLOBO domingo ¿ levou o secretário de Segurança, Marcelo Itagiba, a anunciar a criação da 4ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM), na Zona Oeste. A unidade vai investigar a participação de policiais militares na venda ilegal de ¿proteção¿ na região.

Conforme a reportagem denunciou, 179 policiais ¿ 150 deles PMs, incluindo um tenente-coronel, um major, capitães e tenentes ¿ são citados em investigações por suspeita de envolvimento em 18 grupos, que após a expulsão do tráfico passaram a controlar 72 comunidades na Barra, em Jacarepaguá, na Pedra de Guaratiba, na Conjunto Nova Sepetiba e na Zona da Leopoldina.

De acordo com Marcelo Itagiba, a 4ª DPJM vai atuar como braço operacional da Corregedoria Geral de Polícia Militar na região, onde as milícias agregaram em um ano 30 novas comunidades à área de domínio. A ligação de policiais com grupos que exploram caça-níqueis e outros crimes também será alvo da equipe da nova unidade. Parte dos PMs citados como integrantes de milícias também atua na ¿proteção¿ das famílias que exploram as máquinas em bairros da Zona Oeste.

¿ Nós apoiamos todas as ações que, dentro da lei, visem a ajudar os policiais e suas famílias nos locais onde residem, mas os casos de desvio de conduta e crimes praticados por policiais continuarão a ser punidos rigorosamente ¿ assegura Itagiba.

Apenas quatro PMs foram punidos com prisão

O secretário recorrer aos números da operação Navalha na Carne como prova de rigor nas investigações:

¿ Em quase um ano prendemos 688 policiais e expulsamos 201 das corporações, sendo 184 PMs e 17 policiais civis.

Apesar do empenho relatado pelo secretário, apenas quatro PMs foram punidos com prisão disciplinar por suspeita de envolvimento em milícias. A Corregedoria Geral da PM argumenta ter instaurado inquéritos policiais-militares (IPMs) em que 33 policiais passaram a ser investigados após O GLOBO mapear, em 2005, a presença dos grupos em 42 favelas. Um ano depois, a área de influência e o número de policiais envolvidos nas milícias aumentaram, mas apenas seis foram indiciados e quatro punidos disciplinarmente. Ninguém foi expulso.

Entre os seis indiciados e quatro punidos disciplinarmente, não figura qualquer oficial. A justificativa para a disparidade estaria no percentual maior de praças suspeitos de participação em irregularidades. A Polícia Militar também nega que haja lentidão na conclusão dos IPMs, instaurados há um ano, e emprega como argumento o amplo direito de defesa dos policiais suspeitos.