Título: EM VEZ DE RÉPLICA, COMPARAÇÃO
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 01/02/2006, O País, p. 3

Planalto reforça estratégia de comparar governo de FH ao de Lula

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Por causa das críticas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o Palácio do Planalto reforçou a estratégia já determinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tentar neutralizar os ataques: em vez de rebater as críticas de corrupção, comparar os números dos dois governos.

Ontem, o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, reagiu aos ataques de Fernando Henrique e classificou as críticas de ¿comparação artificial¿.

¿ Fernando Henrique tenta criar artificialmente uma comparação porque, em todos os outros pontos de avaliação entre as duas gestões, o governo Lula leva grande vantagem. Para mim, é uma tentativa desesperada. Em vez de só ficar atacando, a oposição devia comparar a gestão do apagão de Fernando Henrique com as nossas ações no setor de energia. É triste perceber que depois de oito anos de mandato, Fernando Henrique fique limitado a fazer apenas esse tipo de comparação.

¿A oposição é que será atingida pelo passado recente¿

No núcleo do governo, a preocupação é que se evite ao máximo a armadilha de discutir as denúncias de corrupção. No Congresso, os petistas também reagiram.

¿ Eu não acredito que Fernando Henrique tenha dito isso (sobre ladrões). Ele sabe que não é verdade. O ex-presidente é um homem elegante e não usaria um argumento mentiroso para fazer campanha contra Lula. Agora, se a campanha ficar concentrada em denúncias de desmandos administrativos, a oposição é que será atingida pelo passado recente ¿ disse o vice-líder do governo na Câmara, deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF).

O deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) lembrou o escândalo da compra de votos da emenda da reeleição no governo tucano:

¿ Se eu pudesse dar um conselho ao Fernando Henrique diria: lembre-se do processo de campanha para aprovar a emenda da reeleição. A compra de votos foi lá em cima ou foi no andar de baixo? Acho que o ex-presidente deveria ter a grandeza de se abster de dar opiniões sobre o presidente em exercício.

Em São Paulo, com discurso de que ¿os tucanos devem olhar para o próprio rabo¿, o secretário-geral do partido, Raul Pont, disse que a melhor forma de avaliar os dois governo (FH e Lula) é na base da comparação.

¿ A orgia das privatizações é incomparável às denúncias do valerioduto. Será que o senador (Eduardo) Azeredo é quem vai nos dar lição de moral? ¿ ironizou o petista, lembrando que o tucano recebeu recursos de Marcos Valério.

Ontem, o presidente Lula enviou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma resposta a quatro representações propostas pelo PSDB, que o acusa de ter feito propaganda eleitoral antecipada ao discursar em solenidades públicas e também no pronunciamento em cadeia de rádio e TV. Lula justificou que precisa prestar contas e não pode ficar imobilizado. A defesa alega que é a possibilidade de haver reeleição que confunde prestação de contas com campanha eleitoral.

A argumentação do presidente é que ele não teria se dirigido aos eleitores nos eventos mencionados, e sim aos cidadãos. Para Lula, suas manifestações não configuram campanha, que ainda está longe de começar, mas prestação de contas de seu mandato. O TSE havia remetido anteontem um comunicado ao Planalto dando 48 horas ao presidente para se defender das acusações dos tucanos.

As representações propostas pedem que Lula seja condenado a pagar R$50 mil por fazer discursos ressaltando os méritos de sua gestão e mencionando as próximas eleições. A defesa foi feita pelo advogado-geral da União, Álvaro Ribeiro Costa.

COLABOROU Flávio Freire