Título: BRASIL RESTRINGE COMPRAS DE CARNE ARGENTINA
Autor: Janaina Figueiredo e Eliane Oliviera
Fonte: O Globo, 09/02/2006, ECONOMIA, p. 23

Confirmação de foco de aftosa na província de Corrientes faz país suspender importação do produto daquela região

BUENOS AIRES e BRASÍLIA. O governo da Argentina anunciou ontem a descoberta de um foco da febre aftosa na província de Corrientes, a cerca de 280 quilômetros da fronteira com o Brasil e a 25 quilômetros da fronteira com o Paraguai. Segundo informou o presidente do Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar do país (Senasa, na sigla em espanhol), Jorge Amaya, o vírus encontrado pelos técnicos argentinos no município de San Luis del Palmar é similar ao registrado no ano passado no Brasil. A descoberta do foco levou o ministro da Agricultura brasileiro, Roberto Rodrigues, a suspender as importações de carnes e derivados daquela região do país. Rodrigues foi informado ontem sobre o caso por um telefonema de Jorge Amaya. Além de Brasil, Uruguai (país que em 2001 perdeu cerca de US$500 milhões em conseqüência da febre aftosa) e Chile suspenderam as importações de carne argentina. A existência de focos da febre aftosa não é novidade para os argentinos. Entre 2000 e 2003, o país sofreu prejuízo de US$400 milhões a US$500 milhões por ano pela suspensão de suas exportações para grandes mercados, como EUA e Europa. Após três anos de crise, a Argentina conseguiu o reconhecimento da Organização Internacional de Saúde Animal (OIE) de ¿país livre de febre aftosa, com vacinação¿ em setembro de 2003. ¿ Não gostamos nada do que aconteceu, é uma desgraça, mas estamos investigando a fundo e rapidamente adotamos as medidas necessárias para minimizar os riscos ¿ assegurou o presidente do Senasa. Segundo ele, o organismo já ordenou o sacrifício sanitário de cerca de 70 animais contaminados pelo vírus e implementou uma quarentena na região afetada. Com o foco encontrado pelo Senasa em Corrientes, ¿o número de animais suscetíveis (à febre aftosa) é de 3.067 e os casos que apresentam sintomas clínicos são 70. A idade dos bovinos afetados oscila entre 18 e 24 meses e são animais de raça Braford¿, informou o comunicado do Senasa de ontem. A descoberta do foco ocorreu em meio a uma dura disputa entre o governo Néstor Kirchner e os produtores de carne argentinos. As negociações para congelar o preço do produto no mercado interno fracassaram e, há cerca de duas semanas, o Ministério da Economia adotou medidas para controlar as exportações de carne que, no ano passado, alcançaram US$1,4 bilhão, o que representa um aumento de 300% em relação às vendas de 2001. O Ministério da Agricultura brasileiro informou que todas as superintendências do órgão no país estão em estado de alerta. Também foi proibido o trânsito de animais vivos e alimentos derivados de carnes em geral na fronteira com a Argentina. Além disso, veterinários e técnicos da área de vigilância sanitária estão sendo enviados a portos, aeroportos e fronteiras e serão reativados os chamados ¿rodolúvios¿ e ¿pedilúvios¿ ¿ que são tapetes molhados com uma solução à base de iodo, por onde passam automóveis, no primeiro caso, e onde pisam visitantes que chegam do país vizinho. ¿ A tendência do Brasil é adotar o mesmo critério que a Argentina adotou em relação aos focos no Mato Grosso do Sul ¿ disse o secretário de Defesa Agropecuária, Gabriel Alves Maciel.

Em outubro foi a vez dos argentinos fazerem bloqueio

Em outubro de 2005, quando foi registrado o primeiro foco de aftosa no Mato Grosso do Sul, a Argentina suspendeu as compras de carnes do Brasil apenas para aquele estado. Em seguida, estendeu a proibição para Paraná, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Após intensa negociação, as autoridades argentinas decidiram acabar com o embargo para Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A notícia sobre o foco de aftosa na Argentina deixou preocupado o setor privado brasileiro. Para o diretor da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Antônio Camardelli, nesse episódio a imagem do Mercosul fica prejudicada perante os importadores internacionais e os próprios concorrentes.