Título: Dos distúrbios à nacionalização
Autor: Ramona Ordonez, Mirelle de F., Mônica T. e Eliane
Fonte: O Globo, 14/02/2006, ECONOMIA, p. 10

Em outubro de 2003, os bolivianos foram às ruas e derrubaram o governo do presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, que tentava aprovar a exportação de gás para os Estados Unidos. A violenta oposição provocou a renúncia de Lozada, que deixou o governo para evitar mais derramamento de sangue. Em 2004, já no governo de Carlos Mesa, o país realizou um plebiscito sobre o futuro das reservas de gás: a maioria dos bolivianos se declarou favorável à exportação do produto, mas determinou que o Executivo deveria recuperar a propriedade das riquezas energéticas na boca do poço e conseguir aprovar, no Congresso, uma lei elevando os royalties cobrados sobre petróleo e gás. O então deputado e líder dos cocaleiros, Evo Morales, apoiou o presidente Mesa, mas queria que os royalties pagos pelas empresas do setor fossem elevados para 50% e os impostos, para 32%. Depois de protestos e bloqueios de estrada incentivados por Morales, a nova lei acabou aprovada, em maio do ano passado, elevando os impostos para 32% e os royalties para 18%, e recuperando para o Estado a propriedade das jazidas de petróleo e gás. Em 2005, Mesa foi derrubado e Morales, em campanha para a presidência, prometia nacionalizar as refinarias da Petrobras. As duas operadas pela estatal brasileira na Bolívia processam em média 40 mil barris de petróleo por dia. A Petrobras investiu cerca de US$1,5 bilhão no país nos últimos dez anos: - Se vencermos as eleições, o companheiro Lula terá que nos devolver as refinarias que nos correspondem - disse Morales em dezembro, em um comício. Já eleito, em visita ao Brasil no começo deste ano, Morales amenizou o discurso, anunciando que a Petrobras será sócia do seu país. Ele se referia a uma parceria da brasileira com a estatal boliviana YPFB. Um memorando de entendimentos foi assinado na sexta-feira.