Título: CPI dos Correios terminará daqui a um mês deixando muitas perguntas no ar
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 20/02/2006, O PAÍS, p. 4

CRISE POLÍTICA: FUNDOS DE PENSÃO DE ESTATAIS SERÃO ALVO DE TRABALHOS FINAIS

Polícia e Ministério Público devem levar anos para concluir investigações

BRASÍLIA. Faltando pouco mais de um mês para concluir seus trabalhos, a CPI dos Correios deverá deixar muitas perguntas sem respostas. Dificilmente a comissão terá como descobrir o destino dos R$55 milhões que passaram pelo valerioduto. Ou concluir as investigações sobre a conexão internacional do esquema que alimentou a conta Dusseldorf, aberta nas Bahamas e onde o publicitário Duda Mendonça admitiu ter recebido pelo menos R$10,5 milhões por serviços prestados ao PT nas campanhas de 2002 e 2004. A tarefa terá de ser transferida para a Polícia Federal e o Ministério Público, aos quais caberá ainda levar adiante a devassa nas operações suspeitas de corretoras, que levaram fundos de pensão de estatais a amargar prejuízos de milhões de reais.

No mínimo quatro ou cinco anos para julgar envolvidos

De acordo com o sub-relator de movimentações financeiras, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), as investigações deflagradas pela CPI dos Correios ainda vão durar anos. ¿ Serão necessários no mínimo quatro ou cinco anos para que todos os envolvidos sejam processados e julgados. Esse foi o prazo que a Justiça brasileira levou para concluir a responsabilidade do ex-prefeito Paulo Maluf e de seu filho no desvio de recursos públicos ¿ afirma Fruet. Apesar das dificuldades, o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), garante que o trabalho está longe de acabar em pizza: ¿ Nossas investigações levaram dois ministros do núcleo duro do governo Lula a se demitirem. Mais de 15 diretores de estatais foram afastados dos Correios, do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) e de Furnas. Contratos superfaturados foram suspensos e licitações, canceladas. Parlamentares estão sendo processados. Alguns já foram cassados e outros renunciaram. Pizza? Que pizza é essa? A cúpula da CPI acredita ter feito descobertas importantes. Embora não tenha conseguido comprovar o pagamento de mesadas a parlamentares, tal como denunciado pelo o ex-deputado Roberto Jefferson, a comissão mapeou o esquema de financiamento do caixa dois do PT e de partidos da base aliada, montado pelo empresário Marcos Valério e o ex-tesoureiro Delúbio Soares. O trabalho teve como base um banco de dados com a movimentação bancária de 1.100 contas de cerca de 400 pessoas físicas e jurídicas, por onde circularam mais de R$1 trilhão.

CPI comprovou que Visanet foi fonte do valerioduto

Entre seus principais feitos, a CPI comprovou que a Visanet foi uma das fontes de recursos do valerioduto. Mas muitos milhões de reais ainda não tiveram a origem identificada. Na reta final, a CPI vai concentrar suas investigações nas suspeitas de que os fundos de pensão de estatais possam ter alimentado o caixa dois do PT e de seus aliados. De qualquer forma, Serraglio admite que a CPI, mesmo com uma consultoria técnica especializada, só terá como analisar 30% das operações realizadas pelos fundos: ¿ É um assunto que merece uma devassa maior, quem sabe uma CPI específica. Assim como o PT, os tucanos não sairão ilesos no relatório final: a CPI comprova que Marcos Valério mantinha com o PSDB mineiro, pelo menos desde 1998, esquema parecido ao que operou com os petistas. O senador e ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) será citado no relatório final da CPI. A CPI não avançará, porém, na investigação da lista de supostos beneficiários do esquema de caixa dois que teria sido montado em Furnas pelo então diretor Dimas Toledo, em 2002, para financiar campanhas tucanas e de seus aliados. Na lista, que Dimas diz ser falsa, há o nome de 156 políticos. As investigações sobre as denúncias de corrupção nos Correios, que motivaram a instalação da CPI em junho passado, foram as que mais avançaram. Mesmo assim, a comissão não terá condições de identificar todas as empresas que pagaram propina. Muito pouco se apurou também sobre denúncias de irregularidades no IRB, sobretudo depois do afastamento do deputado Carlos Wiliam (PTC-MG) da sub-relatoria do assunto. A CPI terá de se contentar, neste caso, com as conclusões de uma auditoria promovida pelo Tribunal de Contas da União (TCU).