Título: Serra espera gesto de conciliação de Alckmin e cúpula busca consenso
Autor: Flávio Freire e Germano Oliveira
Fonte: O Globo, 19/02/2006, O PAÍS, p. 4

Prefeito teme racha do PSDB como em 2002; demora dificulta acordo com PFL

SÃO PAULO. O prefeito José Serra (PSDB) espera apenas a desistência do governador Geraldo Alckmin para assumir sua candidatura à Presidência. Preferido nas pesquisas, Serra não quer reeditar o racha do partido em 2002, quando parte da cúpula trabalhou contra sua candidatura. Espera um movimento de conciliação de Alckmin, enquanto dirigentes tucanos trabalham pelo consenso, dificultado pela insistência do governador em manter a candidatura. Serra gostaria que Alckmin desistisse, para que ele fosse aclamado candidato único. Mas Alckmin ameaça forçar a realização de prévias, em vez de apenas ouvir as ponderações do triunvirato que manda no PSDB hoje ¿ o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o presidente do partido, senador Tasso Jereissati, e o governador de Minas, Aécio Neves. Serra hesita em trocar o certo pelo duvidoso, já que tem quase três anos de mandato pela frente na Prefeitura de São Paulo. ¿ O prefeito tem suas razões para tomar uma decisão apenas quando o quadro estiver mais definido ¿ diz o deputado Alberto Goldman, um dos apoiadores da candidatura Serra.

Serra liga para amigos de madrugada em busca de apoio

Para o prefeito, a decisão se torna mais arriscada à medida que as pesquisas mostram a recuperação de Lula. Enfrentar uma guerra contra Lula e ter o governador Alckmin trabalhando contra ele em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, com 30 milhões de eleitores, aumenta o risco de Serra encerrar prematuramente sua carreira. ¿ A direção do PSDB quer que Serra seja candidato. As pesquisas mostram que Serra é o único em condições de vencer Lula, mas o prefeito não está seguro de deixar a prefeitura e não contar com o apoio de Alckmin no embate contra Lula. Afinal, Alckmin tem aprovação de 62% do eleitorado de São Paulo ¿ diz um tucano próximo a Fernando Henrique Cardoso. Tasso Jereissati passou a semana articulando uma saída negociada. Embora não declare preferência, admite que a força política de Serra não pode ser desconsiderada. ¿ Estou disposto a trabalhar bastante para que sejam atendidos os anseios do partido ¿ diz Tasso. O triunvirato tucano quer que Serra tome uma decisão até depois do carnaval, antes do prazo fatal de 31 de março ¿ data a partir da qual ou deixa o cargo ou não poderá ser candidato, por causa da desincompatibilização exigida pela lei. Para a cúpula tucana, a demora emperra a negociação com o PFL, que deseja indicar o vice, mas força uma decisão imediata. O prefeito envia e-mails e telefona para amigos pedindo que o ajudem a tomar a decisão. Notívago, Serra telefona sobretudo de madrugada. Nem o médico Drauzio Varella e a ex-primeira-dama Ruth Cardoso escapam de seus telefonemas. Muitos o encorajam a deixar a prefeitura, alegando que esta é a hora de vencer Lula. Outros pedem que ele fique, termine o mandato, se reeleja e dispute a Presidência em 2010. Os que acham que ele tem que sair já alegam que em 2010 estará muito velho (com 68 anos). Hoje tem 64 anos. ¿ O prefeito não tomará decisão sem aprovação do partido ¿ diz o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Magalhães Junior. A grande pedra no sapato de Serra é Alckmin. Parte do PSDB acha que o governador é um candidato melhor. É mais novo (tem 53 anos) e não tem nada que o ligue ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Serra foi ministro de FH e certamente Lula usará isso para comparar suas realizações com as do governo anterior. Além do mais, Serra disputou uma vez com Lula e perdeu. Alckmin representa o novo. Um amigo do governador diz que ele não desistirá e que Serra tem uma dívida de gratidão com Alckmin, que ajudou a elegê-lo prefeito e o apoiou na disputa pela presidência do PSDB em 2002, quando Serra estava sem cargo público. ¿ Geraldo (Alckmin) acha que agora é a vez de ele ser o candidato a presidente ¿ explica um dos assessores políticos de Alckmin.