Título: TUCANOS PODEM RECORRER AO DIRETÓRIO NACIONAL PARA SOLUCIONAR IMPASSE
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 13/03/2006, O País, p. 4

Recurso seria uma espécie de prévia para escolher entre Serra e Alckmin

BRASÍLIA. Depois de passar o fim de semana consultando governadores e líderes regionais do PSDB, a cúpula do partido admitia ontem, diante da disposição do governador Geraldo Alckmin (SP) e do prefeito de São Paulo, José Serra, em disputar a Presidência da República, a necessidade de fazer uma consulta formal ao partido. Na prática, seria uma espécie de prévia.

Nesse caso, a legenda deve optar pelo diretório nacional do PSDB, que tem cerca de 200 membros. Hoje o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), fará por telefone a última consulta aos dois pré-candidatos. Serra ficou de dar uma posição até o início da noite. Tasso fará um último apelo e falará da necessidade de entendimento.

Cúpula tucana teme a divisão do partido

Em conversas reservadas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se mostrava preocupado com o impasse no partido. Alertou para a possibilidade de enfraquecimento do PSDB no enfrentamento contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Nos últimos dias, enquanto o governador Aécio Neves (PSDB-MG) falava com os colegas governadores, Tasso concentrou-se nos líderes regionais. Eles ouviram dos consultados o mesmo temor: a divisão da legenda pode ser fatal para o candidato do PSDB, seja Serra ou Alckmin. Como o entendimento está cada vez mais difícil, tudo indica que Tasso anunciará amanhã a convocação do Diretório Nacional para resolver o impasse.

¿ Nesta terça-feira o PSDB terá uma definição. O que é fundamental é o compromisso de Serra e Alckmin para o partido sair unido desse processo ¿ disse Aécio Neves.

Governador do Pará diz que disputa é burrice

Com quem conversou neste fim de semana, Tasso mostrou frustração com o rumo dos acontecimentos. Para evitar o desgaste maior, a cúpula tucana prepara o discurso para justificar a solução colegiada ¿ fortalecer a democracia interna do PSDB. Mas não foi isso que ouviu neste fim de semana. O governador do Pará, Simão Jatene (PSDB), quebrou o pacto de silêncio e expôs sua opinião sobre as conseqüências da disputa.

¿ Se tiver disputa será péssimo para o partido. Temos que trabalhar até o limite para que isso não aconteça. Estou velho para parecer hipócrita ou ingênuo: esse discurso de que a prévia fortalece o partido não é verdade. O partido tem que ter uma dose de coragem para ousar, mas principalmente uma dose de humildade para ouvir. É uma burrice essa disputa. Se formos divididos, vamos perder a eleição ¿ advertiu Jatene.

O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), usa um tom mais conciliador:

¿ Espero que depois desse exaustivo processo entre Alckmin e Serra, um apóie o outro. O partido espera entendimento.

A esperança de políticos ligados a Alckmin é de que até amanhã Serra anuncie a decisão de permanecer na prefeitura. Mas até a noite de ontem, essa não era a disposição de Serra. Aliados do prefeito viajaram para São Paulo neste fim de semana e fizeram uma consulta ao partido. Todos os políticos ouvidos defenderam que ele deve mesmo enfrentar Alckmin.

Mas Serra só vai comunicar hoje a Tasso sua decisão final. Ele avaliava ontem o impacto de deixar a prefeitura, caso seja o escolhido da prévia tucana. Segundo tucanos favoráveis ao prefeito, a expectativa era que, com a vantagem dele nas pesquisas, o partido optasse de forma natural pela candidatura, o que não aconteceu.