Título: SUSPEITA DE TERROR É PRESA EM SP
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 14/03/2006, O Mundo, p. 30

Libanesa na lista da Interpol teria participado de assassinato do ex-premier Hariri

Suspeita de terrorismo e fraude financeira, a economista libanesa Rana Abdel Rahim Koleilat, de 39 anos, foi presa pela Polícia Civil de São Paulo ao tentar subornar policiais em seu encalço. Rana está na lista da Interpol sob a classificação ¿difusão vermelha¿, ou seja, alta periculosidade. Ela é suspeita de ter participado do atentado que matou o ex-primeiro-ministro libanês Rafik Hariri. Alega, no entanto, que era amiga do premier e vem sendo perseguida por inimigos políticos.

Segundo a polícia, Rana esteve envolvida em um golpe de US$1 bilhão ligado ao banco libanês al-Medina-Medina, que teria operado com dinheiro de Saddam Hussein e financiado o grupo xiita libanês Hezbollah. A libanesa apresentou um passaporte britânico e disse ter dupla nacionalidade. No entanto, o vice-cônsul britânico informou por escrito à polícia que suspeita tratar-se de um passaporte falso. A confirmação ou não, no entanto, será enviada à polícia apenas hoje, depois de uma consulta ao consulado britânico em Beirute.

Já o cônsul libanês em São Paulo, Joseph Salah, informou à polícia que além de processos no Líbano, por fraude, a Comissão Internacional Independente de Investigações da ONU tem interesse em ouvir Rana sobre seu suposto envolvimento no atentado que matou Hariri em fevereiro do ano passado.

Rana foi denunciada por um compatriota

A polícia suspeita ainda que o visto de Rana esteja vencido desde janeiro. Neste caso, ela deverá ser encaminhada à Polícia Federal hoje. A libanesa teve três passagens pelo Brasil, as duas primeiras no ano passado, sem que fosse detectada pela Interpol. O Ministério da Justiça informou ontem que a Polícia Federal está consultando o governo libanês sobre seu possível interesse na extradição de Rana.

Ela foi denunciada anonimamente à Polícia Civil, há uma semana, por um compatriota que vive em São Paulo. O libanês acionou a 7ª Delegacia Seccional, que passou a monitorar Rana, com a informação inicial do pedido de localização da Interpol, sem saber ainda que ela está classificada como ¿difusão vermelha¿, segundo o dossiê 20.515 da Interpol. Os policiais a abordaram num apart-hotel e lhe entregaram o pedido da Interpol em inglês. Ela teria dito que sabia do pedido, mas se tratava de um equívoco. Rana teria oferecido US$50 mil, US$100 mil e, no final, US$200 mil para os policiais esquecerem o caso, segundo o delegado Nicanor Nogueira Branco.

O delegado Murilo Fonseca Roque, que ouviu o depoimento de Rana com a ajuda de um intérprete árabe, disse que ela negou qualquer chantagem ou a participação em atos terroristas, sobretudo o assassinato de Hariri.

¿ Ela disse que é vítima de perseguição política, porque era amiga do ex-primeiro-ministro. Ela disse também que ficou com muito medo de ser morta após o assassinato dele, e por isso fugiu do Líbano. Além disso, afirmou que foi mal interpretada pelos policiais, porque eles não falam inglês, francês nem árabe, as línguas que ela domina bem ¿ contou o delegado.

O advogado de Rana, Vítor Mauad, deu a versão dela.

¿ Fiquei surpreendido com as acusações de terrorismo. Ela nega tudo isso. Mas farei a defesa apenas do motivo de sua prisão, por tentativa de suborno. Como ela pode ter tentado subornar se não fala quase nada em português e os policiais só falam português? Creio que eles não entenderam o que ela disse, pois contou que tentava explicar que tinha dinheiro e amigos no Brasil, não que lhes daria dinheiro ¿ disse o advogado, que pedirá o relaxamento da prisão à Justiça.

Segundo ele, Rana lhe disse que é empresária na Inglaterra e na França e atua no ramo de hotelaria e com uma corretora de valores. Ela estaria no Brasil para fazer investimentos. Em seu poder, Rana tinha US$14.600. O delegado Branco informou que a polícia está checando as informações. O telefone celular dela foi apreendido e as ligações estão sendo rastreadas.

¿ Ela falava bem o português até o advogado chegar. Depois que falou com ele, não fala mais ¿ disse o delegado.

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