Título: Cacos da escolha
Autor:
Fonte: O Globo, 15/03/2006, O GLOBO, p. 2

Se todo o esforço do PSDB na escolha de seu candidato foi para evitar feridas e seqüelas, a ausência de José Serra na cerimônia de anúncio da candidatura Alckmin simbolizou a inutilidade da delonga novelesca. Evitando a disputa (que possivelmente perderia) para não rachar o partido, o prefeito jogou sobre os ombros de Alckmin e dos dirigentes a responsabilidade pela escolha do nome menos competitivo.

Seguem-se agora, para o PSDB e o escolhido, três tarefas imediatas e importantes para a implementação da escolha feita. Em primeiro lugar, curar as ferias e seqüelas já visíveis. Depois, compor-se com o PFL que ficou chupando o dedo sem a prefeitura de São Paulo. Alckmin precisa seduzir os pefelistas liderados pelo prefeito Cesar Maia que preferiam a candidatura de Serra e desdenharam a sua. E por fim, segue-se a escolha do candidato a governador de São Paulo, cujo palanque funcionará como pilar central da campanha presidencial tucana. Não se deve ainda descartar, diz um tucano bem situado, a hipótese de Serra a aceitar o desafio. Mas é remota.

Começando pelas feridas, abertas mesmo sem a ocorrência de prévias: Serra e os seus acreditaram que em algum momento o trio condutor faria valer o critério do favoritismo nas pesquisas, enquadrando o governador, que a todos surpreendeu com sua determinação. Não se colocando na disputa, permitiu que Alckmin, em campanha aberta, subvertesse os critérios estabelecidos, fazendo prevalecer a lógica do apoio partidário. No recente jantar que teve com a bancada federal na casa do deputado Eduardo Gomes, em Brasília, a subversão ficou evidente. A conta de apoios internos prevalecia sobre os índices nas pesquisas.

Serra perderia, por isso não topou a disputa, dizem os alegres ackministas. Mas colocando-se como candidato na última hora, lembrando seus índices nas pesquisas e recusando-se a participar de uma disputa que favoreceria o inimigo, ele se descolou da opção do partido. Sua nota de ontem deixa isso claro. A ausência também. Em 2002 ele viu muitos tucanos cruzarem os braços. Se não quiser passar pelo mesmo, Akcmin terá que entrar em campo com boa dose de habilidade e curativos.

A questão com o PFL foi explicitada ontem mesmo por seu presidente, Jorge Bornhausen, ao dizer que fará uma consulta ampla sobre três hipóteses: aliança com o PSDB, candidatura própria ou independência na eleição presidencial. E que nada será decidido antes da palavra final do STF sobre a verticalização. Rodrigo Maia lembrava que a candidatura de seu pai, o prefeito do Rio, oficialmente ainda está colocada, devendo ele ser consultado sobre sua retirada. É natural, dizem tucanos, que o PFL, agora sem a prefeitura, queiram encarecer o acordo. Por isso mesmo Alckmin agora precisa ir à luta, valendo-se da ajuda dos pefelistas que torceram mais abertamente por ele, como os senadores Agripino Maia e ACM.

Por fim, a candidatura a governador. Tendo abdicando da disputa em nome da unidade, é previsível que a escolha do candidato a governador seja uma prerrogativa de Serra e seu grupo, não de Alckmin. Entre os serristas, há quem admita a hipótese e há quem a despreze. Mas se existem mesmo pesquisas apontando Serra como um candidato quase imbatível, ela será considerada. O governo de São Paulo não é um prêmio de consolação, é o segundo pólo de poder mais importante do país. Os outros candidatos tucanos são fracos e a dobradinha facilitaria a unidade.

Agora, segue o baile com a novela do PMDB.