Título: GOVERNO TRAÇA PLANO ANTI-RACIONAMENTO
Autor: Monica Tavares
Fonte: O Globo, 15/03/2006, Economia, p. 29

Previsão é de aumentar oferta de energia em 40%. Risco de apagão é de 5%

BRASÍLIA. O governo anunciou ontem que o Brasil precisa ampliar em 40% a capacidade de geração de energia nos próximos dez anos para atender à demanda estimada do país com o crescimento econômico e populacional. Para passar dos atuais cem mil megawatts (MW) gerados para 140 mil MW em 2015, serão necessários R$85,364 bilhões em investimentos públicos e privados na geração e outros R$40,7 bilhões em aperfeiçoamento e interligação do sistema de transmissão.

O Plano Decenal elaborado pela estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que ficará em consulta pública até 14 de abril, prevê a construção de três grandes usinas hidrelétricas e uma nuclear (Angra 3) e a interligação de dois grandes sistemas de fornecimento do Norte do país com o Sudeste/Centro-Oeste, de forma a integrar todo o sistema nacional de energia. Isso deverá beneficiar todos os consumidores porque vai reduzir os custos com a Conta Consumo de Combustível (CCC), que banca o óleo usado nas termelétricas da Região Norte.

O planejamento estratégico para evitar que o Brasil volte a passar por um racionamento prevê para depois de 2011 a entrada em operação da primeira etapa das usinas de Belo Monte (Rio Xingu), com 5.500 MW, de Jirau, com 3.300 MW, e de Santo Antonio, com 3.150 MW (ambas no Rio Madeira). Todo o plano considera risco de faltar energia de apenas 5%.

Decisão sobre conclusão de Angra 3 fica para 2007

Entre 2006 e 2010, deverão entrar em operação as hidrelétricas que já estão em implantação ou construção. Se for erguida, Angra 3 está prevista para entrar em operação em 2013, com as obras sendo concluídas em 2012 (1.309 MW). Mas o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, disse que, para isso, o Conselho Nacional de Política Energética, a quem cabe autorizar a construção, terá que tomar uma decisão até 2007. Desde o ano passado o órgão interministerial estuda o tema.

Para a expansão da transmissão, os investimentos deverão ser de R$4 bilhões ao ano. Dos R$40,7 bilhões, R$9,5 bilhões irão para a construção de subestações e transformadores e R$31,2 bilhões, para linhas de transmissão. Serão 60 mil quilômetros a mais de linhas.

O consumo da classe industrial, que representa 47% do total atualmente, cairá a 43% em dez anos. No caso dos consumidores comerciais, subirá de 15% para 18%. As residências aumentarão sua participação de 24% para 25% em 2015. A demanda dos outros consumidores (rurais, iluminação pública) permanecerá a mesma: 14%.

A proposta de expansão do sistema levou em consideração que a população do país subirá de 182 milhões para 202 milhões de pessoas em 2015. Entre 2006 e 2015, serão mais 19,9 milhões de habitantes. A previsão do crescimento médio do mercado de energia, em um cenário chamado de referência, é de 5,2% ao ano. O Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de riquezas produzidas pelo país) considerado oscila de 3,5% a 5%.