Título: LÍBANO PEDIRÁ EXTRADIÇÃO DE SUSPEITA DE TERROR
Autor: Jailton Carvalho e Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 15/03/2006, O Mundo, p. 33

Rana Koleilat, acusada de fraude e assassinato de ex-premier, diz que sofre perseguição política e seria morta em Beirute

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Representantes do governo do Líbano devem entrar hoje no Supremo Tribunal Federal (STF) com um pedido de prisão para fins de extradição da economista Rana Abdel Rahim Koleilat. Ela foi presa no domingo, em São Paulo, acusada de envolvimento num golpe de US$1 bilhão contra o banco Al-Madina e outros crimes. As autoridades libanesas têm 60 dias para apresentar pedido formal de extradição.

O Brasil não tem tratado de extradição com o Líbano, mas isso não impede que o STF delibere sobre o caso. Se considerar procedentes as acusações da polícia libanesa, poderá autorizar a extradição da economista. Em geral, quando não há acordo de extradição, o STF atende os pedidos das autoridades estrangeiras e pede reciprocidade de tratamento. Neste caso, as autoridades libanesas deveriam se comprometer a permitir a extradição de brasileiros eventualmente presos no Líbano.

Representantes do governo libanês fizeram contatos ontem com dirigentes do Departamento de Estrangeiros do Ministério da Justiça.

Acusada diz que será morta se voltar para o Líbano

Em São Paulo, onde está presa desde domingo, acusada de tentar subornar policiais civis, Rana disse que é perseguida política em seu país e que foi localizada e denunciada no Brasil pelas mesmas forças políticas que a perseguem no Líbano. Ela disse ainda que prefere morrer ou ficar presa no Brasil a voltar ao Líbano.

A economista fez um apelo ao cônsul do Líbano em São Paulo, Joseph Salah. Ela insiste em dizer que era amiga de Hariri, que teria pago seus estudos na Inglaterra, mas acabou envolvida nas acusações do atentado, por isto fugiu do Líbano. O visto de Rana, que estava no Brasil desde outubro, está vencido.

¿ Se for para morrer, prefiro que me matem aqui no Brasil¿ disse Rana, segundo seu advogado, Vítor Mauad.

Rana é suspeita de terrorismo e fraude em seu país. Ela está listada pela Interpol como pessoa de alta periculosidade. Segundo a polícia, esteve envolvida em um golpe de US$1 bilhão ligado ao banco libanês Al-Madina, que teria operado dinheiro de Saddam Hussein e financiado o grupo Hezbollah. Foi detida várias vezes em seu país por suspeita de transferências ilegais.

Segundo a Polícia Civil, além de processos no Líbano, por fraude, a Comissão Internacional Independente de Investigações da ONU quer ouvir Rana por seu suposto envolvimento no atentado que matou Hariri.

De acordo com o Ministério da Justiça, Rana está agora envolvida em dois processos diferentes. Além do pedido de extradição, como agora é acusada de crime de corrupção ativa no Brasil, ela será mantida sob tutela da Justiça no estado de São Paulo até cumprir pena, caso seja condenada. Ela teria oferecido US$200 mil aos policiais que a prenderam domingo e foi detida em flagrante. Neste caso, ela seria expulsa do país depois de cumprir sua pena.

Rana está sendo ajudada em São Paulo por um libanês que mora há 20 anos no Brasil e que não quer ser identificado. O amigo a conhece desde a infância, em Beirute. Ele sabia das suspeitas sobre Rana pelos jornais, mas nunca levou as acusações de terrorismo a sério. Rana teria tido um cargo de confiança de Hariri no Banco Central do Líbano antes de se envolver com a fraude. Aos amigos teria afirmado que sua assinatura na fraude bancária foi falsificada.

Delegado afirma que Rana parece ser arquivo vivo

O delegado Murilo Fonseca Roque conversou com Rana e contou que ela diz temer ser extraditada para o Líbano.

¿ Ela fica repetindo que será morta. Por tudo o que ela insinua, dá para entender que essa mulher é um arquivo ambulante, por todo o medo que demonstra dos libaneses ¿ disse o delegado.

Segundo o advogado, Rana afirma também que seus inimigos políticos têm um plano para envolvê-la no assassinato do ex-premier e conseguiram se ramificar no Brasil, onda há milhões de libaneses e descendentes.

¿ As mesmas forças políticas que a acusam no Líbano estariam no Brasil, segundo ela me disse. Ela entende que há uma armação e se recusa a falar em terrorismo. Fala que Hariri foi morto pelo governo da Síria. Se ela tivesse ligação com o atentado, estaria na Síria, que a ajudaria ¿ disse o advogado.