Título: Entreguei o relatório no gabinete da presidência¿
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 28/03/2006, O País, p. 4

A superintendente de Gestão de Pessoas da Caixa, Sueli Aparecida Mascarenhas, confirmou que pediu ao gerente Jeter Ribeiro, um de seus subordinados, para tirar um extrato da conta do caseiro Francenildo dos Santos Costa. Sueli informou que fez o serviço a pedido de um assessor do presidente da Caixa, Jorge Mattoso. Segundo ela, o assessor de Mattoso disse que as informações seriam necessárias para fundamentar um relatório sobre a conta do caseiro a ser enviado ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Sueli disse que não sabia que o extrato seria tornado público, como acabou acontecendo. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Como a conta do caseiro Francenildo foi invadida?

SUELI APARECIDA MASCARENHAS: Só posso dizer o que aconteceu comigo.

O que aconteceu com você?

SUELI: Eu disse tudo na Polícia Federal. Declarei que recebi um pedido de um dos assessores da presidência da Caixa para acessar uma conta (do caseiro). Era para fazer uma denúncia de suspeita de lavagem ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). Como eu não tinha o cadastro (das contas) pedi ao Jeter, um gerente que trabalha comigo, para providenciar o extrato. Era um documento para montar um processo por lavagem.

E depois, o que foi feito com o extrato? Quem divulgou as informações?

SUELI: Entreguei o relatório para uma pessoa do gabinete da presidência. Daí em diante eu não sei o que aconteceu. Os funcionários obedecem a ordens. São a parte mais frágil e mais atingida. O fato de um funcionário de um banco acessar a conta de um cliente que está sob suspeita não é um erro, é uma obrigação. Daí à divulgação fora da Caixa, fora do Coaf é outra questão. Isso é que constitui quebra do sigilo.

Por que você, que é superintendente de Gestão de Pessoas, foi solicitada para tirar o extrato e não outro superintendente?

SUELI: Foram procurados outros superintendentes, que não estavam no prédio. A Diva (de Souza Dias, que teve o nome relacionado ao escândalo) também foi procurada. Mas ela não tem nenhuma relação com essa situação. Nem ela e nem o vice-presidente de Logística (Carlos Alberto Cotta). Eles não estavam. Então o pedido chegou a mim.

O que o assessor disse para justificar o pedido do extrato?

SUELI: Ele pediu como uma demanda do Gabinete da Presidência.

Este tipo de pedido de relatório, partindo da Presidência, é comum?

SUELI: Não, não é comum.

Qual vai ser o desfecho do caso, como é que vocês estão se sentindo?

SUELI: Todas as pessoas da Caixa estão sofrendo muito. A avaliação é que não houve erro ali. Fizemos um trabalho interno. Não temos conhecimento de como a informação foi divulgada. Estão dizendo até que tinha um servidor desaparecido, que o computador sumiu. Isso não é verdade. A Caixa não tem bandido. O que aconteceu é que, de repente, nos vimos no meio de uma guerra política.