Título: Protestos também em verde-e-amarelo
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 01/04/2006, O Mundo, p. 44

Brasileiros ilegais podem chegar a 60%

NOVA YORK. Pela primeira vez, os brasileiros nos Estados Unidos estão indo para as ruas com a bandeira verde-e-amarela, cantando o Hino Nacional em ritmo de samba nos comícios, mandando e-mails e telefonando para os políticos. Para surpresa até dos líderes dessa comunidade, eles eram um grupo de 700 ou mil entre os 5 mil manifestantes no início da semana em Boston, numa das muitas passeatas de imigrantes que incendiaram o país na última semana.

E estão se preparando para participar de novo dos grandes protestos previstos para o dia 10 em todo o país, como forma de pressionar os senadores a votarem a lei de imigração antes do recesso parlamentar e manifestar o desagrado com o projeto de lei que transforma em criminosos os estrangeiros ilegais, aprovado pela Câmara.

¿ Os brasileiros têm medo. Mas já perceberam que têm muito a ganhar ou a perder, dependendo da aprovação da lei ¿ disse Heloísa Galvão, fundadora e diretora há 11 anos do Centro da Mulher Brasileira, em Boston.

O Itamaraty estima que um milhão de brasileiros vivam nos EUA, mas alguns líderes comunitários acham que o número é quase o dobro e que 60% deles seriam clandestinos. Pela proposta aprovada segunda-feira no Comitê do Senado, 80% desses brasileiros sem documentos poderiam se legalizar e virar trabalhadores convidados.

¿ Muitos trabalham limpando casas. Eles teriam de arranjar um empregador que os declarassem. Mas isso é uma segunda etapa, ao receberem o visto provisório já estariam legalizados ¿ diz Marcony Almeida, assessor político da Mira, uma das organizações que promovem as manifestações.

Os imigrantes estão dispostos a não deixar adormecer a discussão sobre a situação de 11 milhões de estrangeiros trabalhando e pagando impostos nos EUA, mas sem documentos e sujeitos à deportação. Os brasileiros são apenas um pequeno grupo se comparados às levas de mexicanos e asiáticos. O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, defende a anistia geral, a mesma bandeira dos manifestantes que atravessarão em passeata a ponte do Brooklyn amanhã.

¿ Acho que será uma longa discussão e o perigo é sair uma lei que não será boa para ninguém. Pelo menos já se deixou de tratar imigrante como criminoso. A idéia é que essa é uma nova luta de direitos civis, como foi a dos negros ¿ diz Eduardo Siqueira, professor da Universidade de Massachusetts e um dos diretores do Centro do Imigrante Brasileiro, em Boston.