Título: COTAS PARA HOMENS, O NOVO DEBATE NOS EUA
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 02/04/2006, O Mundo, p. 45

Universidades americanas fazem ação afirmativa para evitar que salas de aula sejam dominadas por mulheres

NOVA YORK. Está faltando homem. A constatação não é a clássica reclamação das mulheres sobre a dificuldade de conseguir parceiros para relações amorosas. Trata-se de uma revelação feita pela diretora de seleção de candidatos para o Kennyon College, uma tradicional faculdade americana. Num artigo publicado no ¿New York Times¿, Jennifer Delahuntry Britz, diretora da faculdade, confessou o que todo o mundo acadêmico já sabia: as universidades estão fazendo ação afirmativa para homens, numa tentativa de evitar que os campus sejam invadidos por uma enorme maioria de mulheres.

¿A realidade é que os homens são mais raros e, por isso, eles são candidatos mais valiosos¿, diz a diretora da faculdade no artigo, contando que os professores são mais benevolentes com o sexo masculino ¿visando a facilitar a entrada deles nas universidades¿.

Se os critérios fossem igualmente rigorosos para os dois sexos, a maioria dos campus teria 60% de mulheres porque as candidatas são mais numerosas, mais bem preparadas e com projetos de estudos mais interessantes. Segundo Jennifer, esta é a realidade em dois terços das faculdades americanas e as quotas para homens são um recurso usado para manter a paridade entre os sexos no campus: 50% homens e 50% mulheres.

Universidades temem desinteresse

Os administradores desses conglomerados educacionais dizem, a portas fechadas, que a superpopulação feminina tornaria desinteressante a vida no campus para homens e mulheres, o que a longo prazo, afugentaria os alunos com conseqüências desastrosas para os orçamentos de bilhões de dólares das universidades americanas.

¿Eu estarei mandando cartas esta semana para pôr na lista de espera ou rejeitar cerca de três mil estudantes. Infelizmente a maioria vai ser de mulheres... Aos pais das talentosas jovens meninas que receberem estas cartas, eu peço desculpas pela realidade demográfica¿, escreve Jennifer.

A franqueza da diretora deixou furiosos pais, alunos, organizações feministas e educadores. A polêmica explodiu exatamente no momento em que as universidades estão respondendo às candidaturas dos alunos aos cursos de graduação e pós-graduação, época de grande estresse nas famílias americanas.

¿Agora, quando receber a carta de admissão na faculdade, os alunos homens vão ter de se perguntar se são apenas um rosto bonito ou têm capacidades intelectuais¿, debochou John Tierney, um colunista do ¿New York Times¿.

A presidente da Organização Nacional de Mulheres, Kim Gandy, disse que levaria o caso à Justiça, denunciando discriminação contra as mulheres. O Departamento da Educação Nacional declarou que o favorecimento dos candidatos masculinos pode ser contra a lei, mas acrescentou não ter certeza porque as universidades particulares são autônomas para decidir sobre os seus critérios de admissão dos alunos.

Os educadores se perguntam que tipo de mensagem as universidades estão passando para os estudantes ao dizer que os homens podem estudar menos e ter mais opções, diferentemente das meninas que têm de ser muito mais bem preparadas para conseguirem entrar nas melhores faculdades americanas.

¿ Essa prática é o segredo sujo nas altas esferas da educação, porque ela favorece os jovens homens brancos. Se não houvesse isso, quase todas universidades da elite, tradicionalmente masculinas, teriam mais de 80% de mulheres, diz Vaughn A. Carney, uma ex-administradora de universidade.