Título: Brasileira vítima de atentado é enterrada
Autor: Renata Malkes
Fonte: O Globo, 03/04/2006, O Mundo, p. 18

Filha diz que maior legado de Helena Halevy e marido, mortos em atentado, é crença na paz

KEDUMIM, Cisjordânia. Pelo menos 500 pessoas enfrentaram frio e chuva na manhã de ontem para acompanhar o enterro da carioca Helena Halevy, de 59 anos, e de seu marido, Rafi, de 60, mortos quinta-feira num atentado suicida no assentamento de Kedumim, na Cisjordânia. Parentes, vizinhos e amigos vindos de outras colônias da região lotaram a sinagoga de Kedumim. Poucas horas antes, parte da família chegara do Rio de Janeiro ¿ num vôo obtido às pressas pelo governo israelense ¿ para participar do velório, sob forte emoção.

A mãe de Helena, Dvora Shilovitzki, de 78 anos, teve de ser amparada por parentes durante toda a cerimônia. Ainda abalados com a tragédia, os filhos do casal ¿ Oded, Guilad, Naama e Neta ¿ evitaram repórteres.

Família pede discrição, mas não é atendida

Especula-se que o filho mais velho, Oded, oficial de alta patente do Exército israelense, tenha posto em discussão o local do enterro. Depois de participar da remoção de colônias da Faixa de Gaza como oficial, em agosto passado, Oded temeria que, caso o primeiro-ministro eleito, Ehud Olmert, leve adiante o plano de desmantelar também as colônias da Cisjordânia, sua família seja obrigada a retirar os restos mortais do cemitério de Kedumim. Com isso, haveria uma nova cerimônia fúnebre em território israelense. Apesar de a família ter pedido discrição, deputados da extrema-direita e rabinos proeminentes fizeram discursos e acabaram dando ares políticos ao funeral.

¿ Sofremos um ataque injusto. Helena e Rafi eram o símbolo do amor a Israel. Vamos continuar na construção e manutenção da nossa casa com o amor que nossos amigos nos deixaram como símbolo, pois parece que há pessoas que não suportam ver nossa felicidade. Eles não gostariam de ver uma vingança pessoal, mas é preciso uma vingança séria do governo de Israel ¿ afirmou o ex-rabino-chefe de Kedumim Daniel Shilo, quer era amigo do casal.

Filha do casal lembra o pai em desabafo

Uma prima de Helena que não quis se identificar afirmou que, apesar da tensão que se abateu sobre o assentamento, ninguém deixará de viver ali. Dois jovens também morreram no atentado, cometido na entrada da colônia por um homem-bomba palestino disfarçado de judeu ortodoxo, ao qual o casal dera carona.

Segundo a prima, todos foram inspirados por palavras de Naama, filha do casal. Ela teria contado a amigos que a maior herança dos pais é a fé de que é possível conviver em paz com os vizinhos árabes sem deixar de lado a presença judaica na Cisjordânia. Naama desabafou:

¿ Papai foi comandante da segurança de Kedumim por muitos anos e sempre lutou para assegurar os direitos dos palestinos que vivem ao nosso redor. Ele acreditava cegamente na convivência e sempre disse que o povo palestino quer paz, enquanto seus líderes buscam a guerra. E pensando assim, justo em seu carro se sentou o terrorista.