Título: Lula e seu filho ficam de fora
Autor: Maria Lima e Bernardo de La Peña
Fonte: O Globo, 12/04/2006, O PAÍS, p. 3

Ficaram de fora qualquer citação, segundo o procurador por falta de provas, sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu filho Fábio Luiz Lula da Silva. Mas deputados que renunciaram ou foram absolvidos, escapando da condenação política, terão que responder a processo criminal. Outros parlamentares citados na CPI dos Correios e que ficaram fora desta denúncia continuam sendo investigados em outros inquéritos. Para o procurador, este não é um momento de alegria, e sim de tristeza para a história política nacional. Mas disse que não vai demorar muito para que as punições sejam concretizadas, pois o processo está bem adiantado. ¿ O Ministério Público constatou que houve um esquema criminoso, de tráfico político de apoio. Nesse sentido houve, sim, o mensalão. Eu descrevo como isso ocorreu, fato por fato, nas 133 páginas da denúncia ¿ disse o procurador. No encadeamento de depoimentos e ligações de cada personagem do valerioduto, a denúncia da Procuradoria Geral da República constata que Dirceu, Genoino, Delúbio e Silvio Pereira encabeçavam o núcleo principal da quadrilha, chamado de politico-partidário. Esse núcleo pretendia garantir a continuidade do projeto de poder do PT mediante a compra de apoio político de outros partidos políticos e do financiamento futuro e passado das suas próprias campanhas. No segundo núcleo, chamado de publicitário-financeiro, estão o empresário Marcos Valério, seus sócios e funcionários de suas agências de publicidade. O objetivo desse núcleo, segundo o procurador, era receber vantagens indevidas de integrantes do governo federal. E para isso, conclui Antonio Fernando, Marcos Valério "ofereceu os préstimos da sua quadrilha ao núcleo político-partidário". Os publicitários Duda Mendonça e sua sócia Zilmar Fernandes também são citados neste grupo. O terceiro núcleo, denominado financeiro, seria composto por dirigentes do Banco Rural, com sua presidente Kátia Rabelo à frente, que ingressaram na organização criminosa também em busca de vantagens indevidas, de acordo com a denúncia. Como o relatório paralelo do PT, derrotado na CPI, o procurador conclui que o embrião do esquema do valerioduto foi inaugurado na campanha do hoje senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), em 1998, quando ele disputava a reeleição para o governo de Minas Gerais. Mas o procurador não denuncia o tucano, argumentando que há um inquérito específico, em curso, cuidando do assunto. Da mesma forma não foram denunciados os deputados que teriam se beneficiado do mesmo esquema, como Roberto Brant (PFL-MG), José Mentor (PT-SP), Vadão Gomes (PP-SP), Wanderval Santos (PP-SP) e Josias Gomes (PT-BA). Nas investigações posteriores do Ministério Público, poderão ser incluídos os assessores parlamentares que tiveram seus acessos ao Banco Rural detectados pela CPI dos Correios e podem levar a outros parlamentares mensaleiros. ¿ Nesta primeira parte do trabalho do Ministério Público a denúncia coincide em grande parte com a conclusão da CPI. E pode ter a necessidade de aditamentos. Um complemento desse trabalho levará à responsabilização de todos os outros envolvidos ¿ disse Antonio Fernando de Souza, informando que fez questão de encaminhar ao Supremo a denúncia no dia 30 para não sofrer influência do relatório da CPI.