Título: SUZANE VOLTA À CADEIA DEPOIS DA FARSA NA TV
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Fonte: O Globo, 11/04/2006, O País, p. 13

Cenas em que a jovem é orientada pelo advogado a chorar motivaram promotor a pedir a prisão preventiva

SÃO PAULO. Suzane Louise von Richthofen, de 22 anos, acusada de ser a mentora do assassinato de seus pais, Manfred e Marísia von Richthofen, em outubro de 2002, entregou-se ontem à noite à 89ª Delegacia de Polícia do Morumbi, na capital paulista. Ela volta para a cadeia pouco mais de nove meses depois de ser libertada do Centro de Ressocialização Feminino de Rio Claro, no interior do estado. Ela chegou de cabeça baixa, coberta, e amparada pelo advogado.

Suzane teve prisão preventiva decretada no fim da tarde pelo juiz da 1ª Vara do Tribunal do Júri de São Paulo, Richard Chequini, após pedido feito pelo promotor Roberto Tardelli. A decisão de Tardelli foi motivada pela entrevista que Suzane concedeu ao ¿Fantástico¿, veiculada anteontem na Rede Globo.

¿ Era uma atriz de quinta categoria tentando desempenhar um papel de quinta categoria, com diretores de quinta categoria. Nada mais restou senão a intenção de fazer todos passarmos por verdadeiros idiotas ¿ disse o promotor.

Durante a gravação ela é orientada por seu advogado, Mário de Oliveira Filho, a chorar e dizer que foi induzida por seu então namorado, Daniel Cravinhos, e seu irmão, Christian, a cometer o crime, além de consumir drogas. Christian e Daniel são réus confessos do duplo assassinato.

¿ Como a lona do circo caiu na cabeça do palhaço, ele agora quer cair fora. Ela vai querer ir embora. A minha função é tentar impedir que isso ocorra e o juiz entendeu a mesma coisa ¿ disse Tardelli.

Para juiz, liberdade de Suzane é ameaça ao irmão

Para o juiz Richard Chequini, a liberdade de Suzane põe em risco a vida de Andréas von Richthofen, irmão da acusada e testemunha do crime. O juiz diz que uma foto anexada ao pedido de prisão, que mostra Suzane, ¿em companhia supostamente, de sua avó, deixa evidente que está ao seu alcance a testemunha Andréas¿.

O juiz afirma ainda que as divergências entre Suzane e o irmão, por desacordo na partilha de bens dos pais, já são evidentes. A prisão, para o juiz, era necessária para garantir o julgamento de Suzane e dos demais acusados.

Os irmãos Cravinhos também voltaram à cadeia depois de conceder entrevista a uma rádio de São Paulo em que revelaram novos detalhes do crime e o Ministério Público entendeu que eles faziam apologia ao modo como executaram o casal. Tanto eles como Suzane gozavam de um hábeas-corpus que permitia aguardar o julgamento em liberdade.

O julgamento dos três está marcado inicialmente para o dia 5 de junho. Tanto a defesa quanto o Ministério Público, no entanto, pedem que o julgamento ocorra em separado, primeiro os irmãos Cravinhos e depois Suzane.

Na opinião de criminalistas, a defesa de Suzane von Richthofen pode ser muito mais difícil agora.

¿ Não há dúvida de que o promotor vai levar a fita com a entrevista de Suzane para os jurados no dia do julgamento. Ele está com a faca e o queijo na mão. Isso, com certeza, vai prejudicá-la. A impressão é que quiseram demonstrar que ela é inocente, pura, e foi corrompida por dois meninos, os irmãos Cravinhos, que eram viciados e conseguiram transformá-la ¿ afirmou Vitória Nogueira, presidente da Associação dos Advogados Criminalistas do Estado de São Paulo (Acrimesp).

Na entrevista, Suzane se veste e fala como criança

Em uma entrevista à Rádio CBN, Mário de Oliveira Filho, advogado de Suzane, negou que o comportamento dela tenha sido forjado. Segundo ele, assim como na entrevista, Suzane mostra várias facetas no cotidiano, alternando momentos em que fica mais descontraída e que chora.

¿ Se não fosse a segunda parte da entrevista, ainda poderia ficar a dúvida sobre o comportamento de Suzane. Afinal, em um caso como esse sempre fica a incerteza sobre um possível surto que o criminoso possa ter na hora do crime, principalmente se ele usou drogas. Agora, outra coisa é querer mostrar ingenuidade e infantilidade. Suzane teve um comportamento, no mínimo, estranho durante a entrevista ¿ disse Vitória.

Na entrevista, Suzane se veste e fala como criança. Ela chora várias vezes, mas sem que uma lágrima sequer escorra. Depois, mais descontraída em uma cidade do interior, ao lado dos advogados e de amigos, ela sorri e se comporta como uma pessoa normal. E ainda combina com os advogados, sem saber que o microfone está funcionando, como deve agir em frente às câmeras. Na entrevista, Suzane usava uma camiseta com estampa infantil e pantufas.

¿ Foi uma entrevista muito infeliz para a Suzane. Dificulta muito a defesa dos advogados. Eu diria que foi um dado negativo para o processo de defesa de quem é acusada de duplo homicídio dos pais ¿ disse Ademar Gomes, presidente do conselho da Acrimesp.

Na reconstituição do crime feita em novembro de 2002, a polícia afirmou que Suzane participou do planejamento e da execução do assassinato dos pai, mas não ajudou seu namorado, Daniel, e o irmão dele, Cristian, a agredir o casal a pauladas até a morte. Suzane reafirmou que abriu a porta da casa para os irmãos e que, enquanto eles matavam seus pais, ficou na biblioteca, no andar inferior, revirando gavetas para simular um roubo e desligou o circuito interno de TV.