Título: MARCO AURÉLIO AFIRMA QUE LULA SERÁ CANDIDATO
Autor: Soraya Aggege e Ronaldo D'Ercole
Fonte: O Globo, 27/04/2006, O País, p. 12

Ele não tomou a decisão (de disputar a reeleição), mas nós (o partido) já tomamos¿, diz assessor do presidente

SÃO PAULO. Embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tenha anunciado formalmente sua candidatura à reeleição, o PT já decidiu que ele será o candidato. Segundo o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, a candidatura de Lula é questão fechada.

¿ Ele (o presidente Lula) não tomou a decisão (de concorrer à reeleição), mas nós (o partido) já tomamos ¿ disse Garcia, após a reunião de Lula com os presidentes da Argentina, Néstor Kirchner, e da Venezuela, Hugo Chávez, em São Paulo.

Garcia deu a entender que as linhas gerais do programa de campanha, que será debatido no encontro do partido a partir de amanhã, estão decididas: exaltar as realizações do primeiro mandato com a promessa de um ¿salto de qualidade¿.

Crise já foi absorvida, afirma Garcia

Garcia afirmou ainda que a crise política, que atingiu o governo e o PT desde meados de 2004, ¿já foi absorvida¿, e que por isso não deverá ser tratada no encontro deste fim de semana, cuja prioridade será a reeleição do presidente:

¿ Este governo enfrentou uma crise duríssima, com ataques permanentes, e o fez com a manutenção das instituições, com tudo funcionando, a Justiça, a Polícia Federal, as investigações da CPI.

Ausente das atividades do partido há dois anos, Lula fará um discurso para cerca de dois mil petistas amanhã, na abertura do 13º Encontro Nacional do PT. O encontro será a largada eleitoral do partido. Lula deve fazer um balanço auto-elogioso do governo, segundo um interlocutor do presidente. Até domingo, o encontro decidirá a política de alianças e as bases do programa de governo para o caso de um segundo mandato.

Para tentar reeleger Lula, depois de quase um ano do início da crise política, o PT decidiu jogar suas grandes divergências para o segundo semestre de 2007, quando acontece o Congresso Nacional do partido.

¿ Com a crise, todas as correntes viram o que está em jogo. Uma derrota de Lula seria a derrota de toda uma geração de esquerda na América Latina. O Encontro Nacional será o marco dessa repactuação. A roupa suja, se for o caso, lavaremos em 2007, no Congresso Nacional, quando ocorrerá o verdadeiro debate programático¿ disse o coordenador-geral do encontro, Francisco Campos, secretário nacional de organização.

Pelo menos até o fim das eleições, está praticamente acertado no partido que o presidente terá a palavra final com relação a quase todas as alianças regionais, com controle dos palanques. A coordenação oficial da campanha ficará por conta do PT, mas até a participação de articuladores como o deputado cassado e ex-ministro José Dirceu é dada como certa, assim como outras possíveis exigências do Planalto.

¿ Em alguns estados, Lula poderá subir até em três palanques. É claro que isso é perigoso para o partido, mas será exatamentes este o nosso desafio. A prioridade é Lula e ele controlará os palanques. É o PT quem precisa colar sua imagem em Lula ¿ disse Campos.

A maior polêmica do encontro ficará por conta da política de alianças. São três propostas, sendo que duas têm o apoio da maioria e permitem liberdade de alianças com todos os partidos, exceto PSDB e PFL. A proposta da Unidade na Luta (corrente de Lula, que detém 42% dos votos) dá liberdade irrestrita e a outra subordina os acordos a uma consulta prévia ao Diretório Nacional. A terceira proposta, da esquerda, propõe alianças apenas com partidos de esquerda.

¿ É muito provável que o encontro sinalize para as alianças amplas. Todos sabem da importância do PMDB para nós, por exemplo. Teremos no mínimo um pacto com eles para segundo turno ¿ disse Campos.