Título: MST INVADE FAZENDA DA ARACRUZ NO ESPÍRITO SANTO
Autor: Heliana Frazao e Carlos Orietti
Fonte: O Globo, 27/04/2006, O País, p. 14

Na Bahia, PM diz que vai retirar hoje os sem-terra de fazenda da Suzano Papel e Celulose

SALVADOR e VITÓRIA. O Comando da Polícia Militar na Bahia assegurou que fará cumprir, hoje, sob qualquer hipótese, a ordem judicial de reintegração de posse da Fazenda Céu Azul à empresa Suzano Papel e Celulose, dona da propriedade. A fazenda, próxima a Teixeira de Freitas, sul do estado, foi invadida há 12 dias por cerca de 2.500 militantes do MST.

A remoção dos sem-terra deveria ter ocorrido ontem, mas o superintendente regional do Incra, José Leal, pediu mais 24 horas à Justiça para tentar resolver o problema de forma pacífica.

No Espírito Santo, cerca de 200 famílias ligadas ao MST ocuparam uma fazenda localizada entre os municípios de Aracruz e Linhares, no norte do estado, que pertence à Aracruz Celulose. As famílias chegaram à fazenda às 2h de ontem e, quando amanheceu, começaram a construir os barracos onde pretendem se instalar.

Aracruz vai recorrer à Justiça para garantir posse

A fazenda da Aracruz já havia sido invadida pelo MST em setembro do ano passado. Eles ficaram um mês no local, e a empresa obteve a reintegração de posse. A Aracruz Celulose informou que está tomando as medidas judiciais cabíveis para tentar restabelecer o direito de propriedade da fazenda.

O MST quer pressionar o governo para fazer a reforma agrária na fazenda. Eles alegam que parte da área é terra devoluta.

Segundo um caseiro, a ocupação foi pacífica. Ele contou que a fazenda foi desativada há três meses. Os dirigentes do MST reivindicam uma audiência com o governador para pedir ajuda aos programas nas áreas ocupadas.

A Aracruz Celulose informou que a fazenda tem mais de oito mil hectares, a maior parte de área de preservação ambiental, com remanescentes de restinga. Outros 1.300 hectares são de plantio de eucalipto.

Na Bahia, a fazenda da Suzano tem 975 hectares. Mais da metade da área está plantada com eucalipto. Na ocupação, os invasores destruíram mais de 200 mil pés da planta ainda em fase de muda, para dar lugar ao acampamento. Ontem de manhã, a PM mandou policiais para fazer cumprir a decisão do juiz Roney Jorge Cunha, concedida há mais de uma semana. Os sem-terra utilizaram mulheres e crianças como escudo.

Desde que obteve o direito à reintegração de posse a direção da Suzano Papel e Celulose negocia uma desocupação sem conflito, mas, após uma reunião com líderes do movimento, na terça-feira, as possibilidades se esgotaram e o governo do estado autorizou a PM a cumprir o mandado judicial.

Superintendente do Incra foi à noite tentar saída pacífica

Segundo o MST, o Incra vistoriou a área em 2002 e a considerou improdutiva, mas no decorrer do processo de desapropriação a propriedade foi adquirida pela Suzano, que passou a produzir eucalipto. O movimento reclama ainda a liberação de créditos agrícolas, e uma área de cerca de dez mil hectares para abrigar novos assentamentos no sul e extremo-sul da Bahia.

O superintendente do Incra, José Leal, foi à noite apresentar uma nova proposta aos invasores, em mais uma tentativa de conseguir a desocupação espontânea da propriedade.

¿Caso a proposta do superintendente do Incra na Bahia não leve à retirada dos invasores, a PM fará cumprir, hoje, sob qualquer hipótese, a ordem judicial de reintegração de posse, promovendo a devida remoção dos invasores¿, disse o comando da PM.