Título: VARIG: ACIONISTAS ANALISAM PROPOSTAS
Autor: Erica Ribeiro, Helena Celestino e Geralda Doca
Fonte: O Globo, 02/05/2006, Economia, p. 22

Assembléia votará hoje cisão da empresa sugerida pelo governo

RIO, BRASÍLIA E NOVA YORK. A diretoria e o conselho de administração da Varig podem ser substituídos amanhã, caso seja aprovada na assembléia de hoje a proposta do governo de cisão da empresa em duas: uma sem dívidas, para o mercado doméstico, que iria a leilão, e outra internacional, com o passivo.

Segundo Selma Balbino, presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários, de acordo com informações da consultoria Alvarez & Marsal, outras duas propostas devem ser apresentadas hoje. Numa, a VarigLog oferece US$400 milhões pela empresa. Outra é de Jayme Toscano, que diz representar investidores estrangeiros interessados em injetar US$1,9 bilhão na Varig.

Selma disse que, no fim de semana, os funcionários da Varig receberam e-mail de Marcelo Botinni, presidente da companhia, convocando-os para a assembléia para haver quórum.

O coordenador do TGV, Rodrigo Maroco, disse que a proposta deles, que prevê o uso de recursos do Fundo de Pensão Aerus na capitalização da Varig, deverá entrar na pauta da assembléia. Maroco advertiu ontem, no entanto, que, dependendo da posição dos credores, há possibilidade de a assembléia de hoje não ocorrer.

O governo federal, que vem trabalhando no salvamento da Varig, orientou os credores estatais, liderados pela Infraero, a suspender a assembléia de hoje, por prazo superior a 24 horas, caso haja risco de a proposta de cisão da Varig não ser aprovada. Segundo uma fonte que acompanha as negociações, a intenção é não permitir que a proposta da VarigLog passe na assembléia. A operação de venda da VarigLog para Volo do Brasil ainda não foi aprovada e há a suspeita de que a Volo tenha majoritariamente capital estrangeiro. A legislação brasileira fixa um limite de participação externa de 20% nas companhias aéreas nacionais.

Dilma: empréstimo do BNDES sem a Fundação

Os ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff, e da Defesa, Waldir Pires, vão monitorar os credores na assembléia. Entre as opções de ajuda à Varig, estaria, em caso de aprovada a proposta de cisão, a concessão de prazo de carência para que a aérea pague tarifas aeroportuárias. Isso seria feito até o leilão de venda da chamada Nova Varig.

No BNDES, haverá uma reunião às 10h de técnicos para acertar como será a injeção de recursos do banco na cisão. Uma das dificuldades é que o BNDES não sabe quem será o tomador do eventual empréstimo para investimento na Varig, o que dificulta avaliação de risco. Avalia-se se o Banco do Brasil ¿ também credor da Varig ¿ poderá entrar com recursos na operação de salvamento, pela compra de recebíveis da aérea.

A ministra Dilma Rousseff condicionou ontem o empréstimo-ponte do BNDES ao completo afastamento da Fundação Ruben Berta da companhia. Segundo ela, a posição do governo é a mesma desde o início do agravamento da crise da Varig: fará todo o possível para resgatar o nome da Varig e os empregos na companhia, mas não acha razoável colocar recursos públicos para serem operados pela Fundação.

¿ Estaremos emprestando para um investidor com outros fundamentos. O empréstimo-ponte tem como cláusula a recuperação. Não é um empréstimo solto no ar, tem de se saber de onde parte e para onde vai ¿ disse a ministra, que, em sua primeira viagem aos Estados Unidos como ministra da Casa Civil, participou ontem de um café da manhã com empresários americanos promovido pela Câmera de Comércio Brasileira Americana.