Título: Deputados demitem assessores investigados
Autor: Maria Lima e Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 05/05/2006, O País, p. 4

Parlamentares negam participação e dizem desconhecer esquema de fraudes por meio de emendas ao Orçamento

BRASÍLIA. Os parlamentares citados nas investigações da Polícia Federal sobre fraudes com recursos do Orçamento tiveram duas reações distintas: uns se disseram surpresos e afirmaram desconhecer o caso; outros imediatamente demitiram assessores, quase todos não pertencentes ao quadro da Casa, como forma de se eximir de responsabilidade direta pelas fraudes.

Único deputado citado como tendo recebido depósitos diretamente em sua conta particular, o deputado Reginaldo Germano (PP-BA) confirmou que sua assessora Suelene Almeida é quem faz a intermediação de prefeitos com os ministérios. Mas negou que tenha qualquer relação com as empresas investigadas ou que tenha recebido propina para direcionar suas emendas individuais:

¿ Dinheiro na minha conta? Duvido e faço pouco! Sou um parlamentar que faz emendas para vários municípios do meu estado, mas não tenho relação com esse povo. A Suelene é quem trabalha com os prefeitos. Ela pode ter tido algum contato porque trabalha com isso. Mas eu não recebi dinheiro.

O senador Ney Suassuna (PB), líder do PMDB no Senado, nem esperou o relaxamento da prisão para exonerar o assessor Marcelo Carvalho, acusado de receber depósitos das empresas investigadas na Operação Sanguessuga. Carvalho trabalhava há três anos no gabinete do senador e sua função era intermediar os pleitos dos prefeitos com ministérios.

¿Se ele recebia não era em meu nome¿, diz deputado

Por meio de sua assessoria, Suassuna disse que soube da prisão de Carvalho pelo noticiário de TV. Ligou para o Ministério da Justiça e, depois de ser informado das acusações, mandou exonerar o assessor.

O deputado João Mendes de Jesus (PSB-RJ) também exonerou o assessor Regis Galhieno, acusado de pertencer ao esquema de corrupção. Galhieno, por coincidência, foi para seu gabinete depois de ser demitido pelo deputado Reginaldo Germano. Mendes disse que, em primeiro mandato, escolheu o assessor pelo site da Câmara, que mencionava seus 15 anos de experiência na Casa:

¿ Se o Regis recebia para fazer essa intermediação, não era em meu nome. Estou transtornado. Como a gente é novo, todo mundo pede para botar emenda aqui e ali, e há quase uma obrigação constitucional de botar na saúde. Nunca passou pela minha cabeça que tinha qualquer armação.

Sobrinho de Edir Macedo também foi preso

Também citada nas investigações, a deputada Elaine Costa (PTB-RJ) está licenciada do cargo desde 6 de fevereiro para fazer cirurgias. O assessor dela, Marco Antônio, o Marquinho, aparece em diversas conversas negociando o recebimento de propinas. Até ontem, quando foi preso, ele continuava lotado em seu gabinete, ocupado pelo suplente Fred Koler(RJ).

Irmã do bispo Edir Macedo, da Igreja Universal, a deputada federal Edna Macedo (PTB-SP) não quis se manifestar porque estaria muito abalada com a prisão do seu filho, Otávio. O marido da deputada, José Sampaio Fernandes Filho, informou que seu filho não trabalhava no gabinete dela e está desempregado há mais de um ano.

¿ A deputada quer aguardar que a Justiça se pronuncie, inclusive por falta de conhecimento do que está ocorrendo. Digno de nota foi o comportamento da Polícia Federal, rapazes novos, profissionais e educados ¿ afirmou o marido.

O deputado Marcelino Fraga (PMDB-ES) ficou indignado por ter sido citado pela PF:

¿ Não tenho assessor chamado Alexandre (como citado em relatório da PF). E nem emendas para compra de ambulâncias para Governador Lindemberg. Tenho emenda para construção de um posto de saúde no município. É impossível para mim saber do que se trata. Se tivesse uma emenda minha para ambulância (para o município), alguém poderia citar o meu nome, mas não tem isso. A PF deixar sair um negócio sem investigar é duro, porque desmoraliza a gente sem necessidade. É um erro.

Outro que foi pego de surpresa pela denúncia foi o deputado Maurício Rabelo (PL-TO). Segundo sua assessoria, Rabelo está abalado por ter visto o seu nome no noticiário ligado ao assunto e não tem informações sobre a denúncia. A assessoria do deputado negou também que Luiz Martins, citado pela PF, seja funcionário do gabinete. Martins faria ¿trabalhos eventuais como um consultor autônomo¿ para o deputado.

Membro da Mesa da Câmara, o segundo secretário e deputado Nilton Capixaba(PTB-RO) não se pronunciou. Seu assessor parlamentar, Francisco Machado Filho, o Chico, também é um dos mais citados no relatório da Polícia Federal como um dos articuladores da quadrilha dentro do Congresso. Segundo a assessoria de Capixaba, ele se encontrava na cidade de Costa Marques, incomunicável.