Título: GOVERNO NEGOCIARÁ COM MONTADORAS
Autor: Ronaldo D'Ercole e Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 06/05/2006, Economia, p. 37

Mantega afirma que discutirá soluções para os problemas do setor com o câmbio

SÃO PAULO. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que se reunirá na segunda-feira com representantes das montadoras para discutir soluções para os problemas que o câmbio valorizado tem causado ao setor. Segundo o ministro, o Brasil é uma plataforma de exportação de veículos, por isso o setor é importante para a balança comercial do país. Segundo ele, a queda de 10% nas exportações do setor em abril é algo ¿preocupante¿.

¿ Estamos interessados em criar as condições para que esse setor continue exportando ¿ disse Mantega.

Segundo ele, o câmbio, que vem se valorizando numa velocidade ¿desconfortável¿, seria o principal responsável pela perda de competitividade das exportações do setor. Apesar disso, ele considera a crise na Volkswagen, que anunciou esta semana a intenção de demitir cerca de 6 mil empregados no Brasil, uma situação transitória. A montadora reclama que, com o real forte, deixará de exportar só neste ano 80 mil veículos para a Europa.

¿ Nossa preocupação é impedir que a Volkswagen feche as portas ou diminua sua produção no país. E acho que podemos encontrar uma solução para isso ¿ disse Mantega.

Já o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, sugeriu ontem transferir parte dos impostos que incidem sobre a comercialização de carros novos para o preço final dos combustíveis. Segundo ele, a medida poderia estimular as vendas de veículos no mercado interno, compensando em parte a perda de rentabilidade das montadoras com as exportações.

¿ O consumidor paga um imposto elevado quando compra um veículo. Se parte desse imposto pudesse ser transferido ao longo da vida útil do veículo, ele vai pagar o mesmo imposto, mas em etapas diferentes. Por exemplo, uma parte dessa tributação poderia ser via combustível ¿ disse o ministro, durante evento em São Paulo.

Furlan acrescentou que a medida ¿ que ainda seria apenas ¿uma hipótese¿ ¿ não representaria acréscimo de impostos, mas sim uma mudança na forma como o consumidor paga por um mesmo tributo.

A sugestão de mudança tributária seria uma das opções em estudo pelo governo para minimizar o impacto da valorização do real nas exportações das montadoras.

Mantega discute redução dos `spreads¿ bancários

Pouco antes de fazer essas afirmações, Furlan se reuniu com Hans Christian Maergner, presidente da Volkswagen no Brasil. Segundo o ministro, eventuais medidas de socorro valeriam para todo o setor, e não apenas para a Volks. Segundo Furlan, o presidente da Volks elogiou os esforços feitos pela equipe econômica para evitar maior valorização do real frente ao dólar, mas ponderou que, com o atual patamar da moeda, não é possível tornar as exportações mais rentáveis.

Guido Mantega participou ontem de reunião na Confederação Brasileira das Associações de Bancos (Febraban), para discutir formas de reduzir os spreads (diferença entre o que os bancos pagam para captar recursos e o que cobram nos financiamentos) e, conseqüentemente, as taxas de juros no país.

¿ A reunião de hoje (ontem) serviu para levantarmos uma agenda de negociação que viabilize a redução dos custos, e dos juros, para a expansão maior do crédito no país ¿ disse Mantega.

Embora tenha afirmado aos dirigentes dos principais bancos brasileiros considerar excessivamente altos o spreads no país, o ministro admitiu as dificuldades para o governo reduzir os tributos cobrados dos bancos. Os bancos voltaram a pedir a queda do compulsório recolhido pelo Banco Central sobre os depósitos, como forma de baixar os juros.

¿ O compulsório é uma forma de restrição ao crédito, proposital, feita pelo Banco Central e que se compõe com as taxas de juros na política monetária. Aí fica difícil interferir nessa esfera.