Título: SETOR CALÇADISTA SAI DE MÃOS VAZIAS
Autor: Martha Beck e Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 11/05/2006, Economia, p. 37

Produtores gaúchos queriam crédito do BNDES para compensar dólar baixo

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O setor calçadista do Rio Grande do Sul saiu frustrado da reunião da qual participou ontem com representantes dos ministérios da Fazenda, do Trabalho e do Desenvolvimento. Os produtores gaúchos queriam compensações para o setor, que sofre com a queda das exportações e com a invasão de produtos chineses. O máximo que conseguiram foi a promessa de uma linha de financiamento do BNDES para capital de giro, o que não atende aos anseios dos produtores, que culpam o câmbio como responsável pelos seus problemas.

Enquanto os calçadistas se reuniam, cerca de dois mil manifestantes gritavam palavras de ordem e queimavam sapatos em frente ao Desenvolvimento. Na reunião, eles pediram a criação de um mecanismo de câmbio-referência. Pela proposta, a taxa padrão do dólar para as exportações do setor seria a de R$2,60. Se no momento do pagamento de uma exportação o dólar estivesse mais barato, o BNDES financiaria a diferença para os produtores por seis anos, com carência de dois anos e juros de 8,75% ao ano. O governo rejeitou a proposta.

Segundo Giovani Feltes, prefeito de Campo Bom (RS) e organizador da Associação dos Municípios do Vale dos Sinos, o município de 60 mil habitantes perdeu 2 mil empregos em um ano. O deputado Júlio Redecker (PSDB-RS), vice-presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio da Câmara, afirmou que a reunião mostrou o total descaso do governo com o setor e os desempregados da região:

¿ Não fomos recebidos por nenhum ministro, os que haviam marcado desmarcaram para receber as montadoras, ou seja, fomos desprestigiados em lugar dos metalúrgicos do ABC, base eleitoral do PT.

Banco do Brasil renegociará dívidas de agricultores

Para os agricultores, o Banco do Brasil anunciou ontem que está tirando do papel a renegociação de dívidas feita pelo governo. No caso dos produtores que têm operações de custeio agropecuário, o novo prazo de pagamento será de até um ano após o vencimento da última parcela e o pedido para o benefício deve ser apresentado até o dia 31 de julho. O vice-presidente de Agronegócio do BB, Ricardo Alves da Conceição, disse que somente nos estados do Mato Grosso e de Goiás há dois mil produtores com esse tipo de dívida, somando R$1 bilhão, metade inadimplente.

Além disso, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse ontem que um novo pacote de medidas já está sendo preparado para ajudar setores do agronegócio com problemas por causa da quebra de safra, queda nos preços e do câmbio desfavorável. Segundo ele, a busca de soluções foi determinado pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A decisão de socorrer os agricultores ocorre cerca de um mês depois de o governo ter baixado um pacote de ajuda bilionário ao setor, com ênfase em medidas emergenciais, de apoio à comercialização de safra e à renegociação de dívidas.